A vitória de Luiz Caetano em Camaçari, sem dúvida, carrega um peso simbólico para a base governista baiana e para o Partido dos Trabalhadores (PT). A cidade é, afinal, o segundo maior PIB da Bahia e sua importância econômica, geográfica e populacional não pode ser subestimada. No entanto, interpretar esse sucesso como uma vitória do governo em nível nacional, como alguns aliados estão tentando construir, é uma leitura que extrapola a realidade.
Camaçari tem, sim, um papel estratégico para a política baiana e para o projeto governista local. A vitória de Caetano reafirma a influência do PT em uma região vital e serve de contraponto à derrota sofrida em Salvador, o que foi um golpe profundo para as forças do governo. Mas ao observarmos o cenário eleitoral como um todo, os sinais indicam que o PT enfrentou derrotas significativas nas principais cidades do Brasil, inclusive em redutos estratégicos que poderão impactar diretamente as disputas de 2026.
Essa vitória em Camaçari deve ser lida como o resultado de um esforço concentrado e massivo, onde até o presidente Lula marcou presença para reforçar o apoio, além de uma mobilização intensa da máquina governista. Dada a situação, a derrota em Camaçari teria sido desastrosa para o governo. Assim, a vitória soa mais como uma obrigação cumprida do que um avanço retumbante em direção a um fortalecimento do governo como um todo.
Quando observamos o desempenho de Flávio Matos pelo União Brasil e o apoio dos caciques desse partido, fica claro que a oposição ainda tem uma presença robusta no estado. União Brasil e outros partidos de centro continuam exercendo influência significativa, e a ideia de que saíram “derrotados” nesta eleição é um argumento bastante forçado. Em diversas capitais e grandes cidades, a base governista falhou em consolidar vitórias, e essas derrotas ecoarão de forma inevitável para a base federal. A falta de densidade eleitoral do PT nas maiores cidades evidencia que, embora continue presente em localidades estratégicas como Camaçari, ainda está longe de conquistar uma hegemonia que possa assegurar vitórias em disputas futuras.
Portanto, é prudente que as lideranças governistas evitem celebrar uma vitória local como um indício de sucesso nacional. A tentativa de construir uma narrativa de triunfo governista em função do resultado de Camaçari pode soar, no mínimo, como uma estratégia artificial e que ignora as derrotas acumuladas pelo governo em cidades igualmente significativas. Se o PT e seus aliados querem realmente reverter o cenário para 2026, será fundamental mais do que contar com vitórias pontuais; é preciso repensar suas estratégias e, talvez, entender que sem o Centrão, o governo está longe de garantir um apoio sólido.