Política e Resenha

As rosas não falam

 

 

 

As rosas sempre tiveram um papel importante nas minhas lembranças e reflexões. No jardim do seminário onde morei havia muitas roseiras! Afinal, Vitória da Conquista é conhecida como a cidade das rosas.

As rosas são de uma beleza extasiante, especialmente as amarelas.


Hoje, fiquei admirando as rosas do jardim da Praça da Borboletas e pensava nos cuidados que o jardineiro teve com aquela roseira, para que aquele milagre acontecesse. E sendo testemunha daquela obra de Deus, um pensamento se apoderou de mim: Assim também é o amor.

Como a roseira, ele precisa de cuidados! Sem a seiva que o alimenta e o revigora, perece. Como a roseira, o amor tem espinhos que ferem e faz sangrar. Os espinhos são inerentes à natureza da roseira, apesar da beleza das rosas.

Se o amor é belo como elas, há também espinhos que causam ferimentos e dores dilacerantes. Pois o sofrer e a capacidade de causar sofrimento faz parte do amar.

Se cultivarmos a roseira com carinho, ela continuará a gerar rosas que embelezam e alegram o nosso viver. O ser humano precisa ser tratado com o mesmo carinho, o amor precisa ser cultivado. Então, mesmo quando pareça inexistente, desabrochará novamente.

Pois, ainda que adquira outras formas, que se manifeste em outras condições e tome outras direções, o amor resiste ao tempo e permanece no ser que ama. As rosas nascem, perecem e são substituídas por outras produzidas pela mesma roseira.

A roseira não tem memória nem sentimentos, ela apenas reproduz o ciclo da vida. Se ela pudesse lembrar e sentir, as rosas que no passado desabrocharam e se extinguiram estariam presentes nela. Como a roseira, geramos diversas experiências de amar, amores que jamais esquecemos.

Desta forma, amar é uma experiência extraordinária.  O amor é “algo em si mais importante e sagrado do que o objeto que o inspira.

E isso porque ele permite ver o mundo como um cintilante conto de fadas, porque faz aflorar o que há de mais nobre e mais belo no ser humano, porque eleva o que há de mais comum e insignificante e o craveja de brilhantes e porque possibilita viver em embriaguez e êxtase”, escreveu Rosa Luxemburgo.

Como a roseira, se cuidarmos para que não faltem os ingredientes necessários à sua existência e não nos esquecermos de tomar os devidos cuidados para não nos ferirmos com os espinhos, o amor subsiste e resiste às intempéries da vida.

No amor sempre vai depender da perspectiva que o outro olha para o seu parceiro. Talvez por isto Machado de Assis nos chamou a atenção que há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho.

Enquanto outras sorriem por saber que os espinhos têm rosas. Não existem rosas sem espinhos, não existem relações duradouras sem renúncia.

 

Padre Carlos.