Nas últimas semanas, o cenário político brasileiro foi sacudido pela possibilidade de uma aliança inesperada: a de Jair Bolsonaro e Michel Temer. A declaração de Bolsonaro sobre a possibilidade de Temer como seu vice em uma futura candidatura em 2026 reacendeu o debate sobre a estratégia política da direita brasileira. No entanto, o próprio Temer já afastou a hipótese, afirmando que considera sua missão política encerrada. O que fica, então, não é a pergunta sobre a viabilidade dessa união, mas uma reflexão mais profunda sobre as lições políticas que Bolsonaro e seus aliados poderiam ter aprendido com a última eleição — e não aprenderam.
Em 2022, ao insistir em uma “chapa puro-sangue”, Bolsonaro optou por não compor alianças amplas, convencido de que sua base fiel e uma mensagem conservadora bastariam para conquistar a vitória. A eleição, contudo, mostrou o contrário: a vitória de Lula não veio apenas de sua popularidade ou de seu carisma, mas, sobretudo, da habilidade de aglutinar diferentes espectros do cenário político. Para vencer, Lula atraiu para sua coligação não apenas setores de esquerda, mas também a direita liberal, o centro político e setores do MDB e União Brasil — forças que, em tese, poderiam ter sido seduzidas por Bolsonaro, mas que, naquele momento, não viram na sua campanha uma proposta suficientemente inclusiva ou moderada para angariar sua confiança.
Bolsonaro, assim, ignorou um princípio básico da política brasileira: a fragmentação ideológica exige articulação e construção de pontes. Diferentemente de países com sistemas bipartidários, o Brasil tem um campo político complexo, onde governar (e eleger-se) demanda alianças e concessões. No entanto, a estratégia da direita populista de 2022 subestimou o peso da articulação, acreditando que bastaria a fidelidade da base para garantir a vitória. A derrota mostrou a limitação dessa abordagem.
A partir disso, o que fica claro é que a extrema-direita, representada por Bolsonaro e seus aliados mais próximos, enfrenta um dilema: ou amplia seu espectro de alianças e absorve as nuances da política centrista e liberal, ou corre o risco de perder relevância frente a candidatos mais hábeis em compor frentes amplas. A tentativa de Bolsonaro de buscar Michel Temer como vice soa, na verdade, como um reconhecimento tardio de que a falta de moderação e articulação ampla em sua chapa foi, de fato, um erro estratégico.
Contudo, a questão vai além da escolha de nomes: trata-se de uma falta de compreensão de que a política, especialmente em um cenário democrático, precisa dialogar com todas as nuances ideológicas. Governar apenas para um grupo específico é insuficiente e, por vezes, perigoso. Ao centralizar sua campanha em valores e políticas que apelam a uma base rígida e conservadora, Bolsonaro afastou-se de setores que, em outro contexto, poderiam até compor sua base, mas que precisam de uma sinalização de abertura, diálogo e, sobretudo, de compromisso com as instituições democráticas.
O exemplo de Lula em 2022, e mesmo de outros governos de coalizão no Brasil, ressalta a importância de saber compor e construir pontes. O futuro da política brasileira, especialmente para a direita, demandará uma leitura mais sensível das demandas de um país plural. A insistência em uma postura radical e de chapas “puro-sangue” provavelmente será insuficiente em um país que se move por coalizões e onde os votos conquistados no centro e na direita moderada são tão importantes quanto os das bases fiéis.
Enquanto Michel Temer se retira da política, talvez ciente do papel de moderação e equilíbrio que desempenhou, resta a Bolsonaro e seus aliados refletirem se realmente desejam aprender com o passado e com os erros de 2022. O Brasil demanda líderes que saibam conversar com todos os setores e respeitem as diferenças ideológicas, promovendo a união em torno de projetos nacionais e democráticos. Ao contrário, o fracasso poderá não só afastá-los do poder, mas também marcar um período de irrelevância política para aqueles que se recusarem a enxergar que a democracia brasileira é, por natureza, uma democracia de todos, e não apenas de um grupo.