Política e Resenha

Coronel Não é Soldado: Os Riscos da Hegemonia Petista na Bahia

 

 

 

O Preço da Ambição Política

A tentativa do PT baiano de construir uma “chapa dos sonhos” para 2026, reunindo Jerônimo Rodrigues, Jaques Wagner e Rui Costa, revela mais sobre a miopia política do partido do que sobre sua força eleitoral. O que parece, à primeira vista, uma demonstração de poder pode se transformar em um tiro no próprio pé.

O caso do senador Angelo Coronel é emblemático. Longe de ser um coadjuvante facilmente descartável, Coronel construiu uma trajetória política marcada por movimentos estratégicos certeiros, como demonstrou ao articular sua ascensão à presidência da Assembleia Legislativa em 2017, desbancando o então todo-poderoso Marcelo Nilo. Quem subestimou sua capacidade de articulação naquela época acabou tendo que recuar.

Agora, como relator do Orçamento Geral da União de 2025 e líder de uma robusta base política no estado, Coronel não parece disposto a aceitar passivamente seu alijamento da chapa majoritária. Sua declaração de que não sairá sem lutar deveria soar como um alerta para os estrategistas petistas.

A história política está repleta de exemplos de como alianças aparentemente inabaláveis podem ruir quando o poder concentra-se demais nas mãos de um único grupo. A pretensão de emplacar três candidaturas petistas nos principais cargos em disputa demonstra uma perigosa tendência à hegemonia que pode alienar aliados fundamentais.

O PSD de Coronel tem se mostrado um parceiro leal, mas lealdade em política tem limites – geralmente demarcados pelo equilíbrio na distribuição do poder. A exclusão do partido das posições mais relevantes em 2026 pode ser o estopim para uma reorganização das forças políticas no estado.

Uma chapa pode parecer imbatível no papel, mas eleições não se vencem apenas com nomes fortes. São necessárias articulações, acordos e, sobretudo, a capacidade de compartilhar protagonismo com aliados estratégicos. O PT baiano parece ter se esquecido da lição mais básica da política: não se governa sozinho.

Ignorar os sinais de insatisfação de um político do calibre de Angelo Coronel pode ser um erro custoso. Se em 2018 o cenário foi diferente devido ao perfil conciliador de Lídice da Mata, agora o contexto é outro. O partido precisará decidir se prefere manter sua ambição por hegemonia ou garantir a estabilidade de sua base aliada.

A política é a arte do possível, não do desejável. Enquanto o PT baiano não compreender que olhar além do próprio umbigo é essencial para a manutenção do poder, corre o risco de ver sua “chapa dos sonhos” se transformar em um pesadelo político.