Política e Resenha

Decisão Acertada, Porém Tardia: A Pressão Popular e a Violência Policial em São Paulo

 

 

Há um velho ditado que diz que o brasileiro só fecha a porta depois de roubado. Infelizmente, ele se encaixa perfeitamente na discussão sobre o uso de câmeras corporais pelos policiais militares de São Paulo, tema que voltou ao centro das atenções após uma série de episódios chocantes de violência policial. Só diante da tragédia, da pressão pública e da repercussão negativa é que as decisões necessárias começam a ser tomadas.

A Resistência Inicial e a Reversão de Postura

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, inicialmente criticava o uso das câmeras, classificando-o como um “voto de desconfiança” nos policiais. Foi preciso uma sequência de tragédias — entre elas, a morte de um menino de 4 anos e a brutalidade de policiais flagrados em vídeo — para que ele admitisse publicamente que estava errado.

O ministro do STF, Luís Roberto Barroso, também resistiu a pedidos do Ministério Público para intervir. No entanto, com o “agravamento do cenário”, como ele mesmo reconheceu, foi obrigado a agir, tornando o uso de câmeras corporais obrigatório em operações, especialmente as de grande porte.

Câmeras Corporais: Transparência e Proteção

As câmeras corporais, quando usadas de maneira contínua, aumentam a transparência das operações policiais. Elas não são apenas ferramentas de fiscalização, mas também de proteção para os próprios agentes de segurança, que podem se defender de acusações falsas e comprovar a legalidade de suas ações.

Estudos mostram que o uso de câmeras reduz significativamente os índices de abuso policial e, consequentemente, o número de mortes em operações. No entanto, para serem eficazes, precisam estar inseridas na cultura institucional das forças de segurança, algo que ainda deixa muito a desejar.

A tentativa do governo paulista de implementar um modelo que permite o acionamento manual ou remoto das câmeras levanta sérias preocupações. A interrupção de gravações ou a ausência de registro em momentos críticos contrariam o princípio da transparência e podem enfraquecer a confiança da população nas instituições.

O Preço da Inação

O caso escancara uma verdade incômoda: a lentidão em adotar políticas preventivas custa vidas. Em um cenário de escalada da violência policial, a inação do poder público é um agravante. Governadores, ministros e outros líderes precisam entender que o custo humano de decisões equivocadas ou tardias é irreparável.

Quando líderes como Tarcísio e Barroso voltam atrás em suas posições, não o fazem apenas por uma súbita mudança de opinião, mas por pressão da opinião pública e pelo temor de serem responsabilizados por sua omissão. É um sinal claro de que a sociedade brasileira tem poder para exigir mudanças, mas lamentavelmente só reage após as tragédias.

Reflexões Finais

As câmeras corporais não são uma solução mágica para os problemas da segurança pública, mas representam um passo importante para reduzir a violência policial e aumentar a accountability das forças de segurança. A decisão de Luís Roberto Barroso é acertada, mas tardia, e só foi tomada após a pressão de um cenário insustentável.

O episódio deixa um recado claro: fechar a porta depois de roubado é um péssimo hábito que precisamos abandonar. A prevenção, o planejamento e a transparência devem ser as prioridades de um país que deseja ser mais justo e seguro. E para que isso aconteça, o poder público precisa agir antes que a tragédia bata à nossa porta novamente.

Padre Carlos