Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, colocou mais lenha na fogueira de suas próprias controvérsias ao sugerir publicamente a possibilidade de buscar refúgio em uma embaixada. Em um momento de extrema pressão política e judicial, tal declaração expõe não apenas um erro de cálculo estratégico, mas também oferece à Justiça argumentos para a decretação de uma prisão preventiva. Afinal, o que parece um gesto de autopreservação pode ser interpretado como indício de fuga iminente.
A fala de Bolsonaro, de que poderia recorrer a uma embaixada “por perseguição”, revela mais do que uma queixa contra o Supremo Tribunal Federal (STF) ou a Polícia Federal (PF). Trata-se de um movimento arriscado, que fragiliza sua posição jurídica e política. Ao admitir, ainda que de forma hipotética, tal alternativa, ele amplia a percepção de que está acuado e, portanto, disposto a evitar as consequências legais das acusações que enfrenta.
O cenário não é favorável ao ex-presidente. Relatórios da PF apontam provas robustas de que Bolsonaro teria atuado diretamente em um plano para subverter a ordem democrática. A fala sobre “voltar a discutir o processo eleitoral” com as Forças Armadas, somada à polêmica minuta do golpe, não soa apenas como retórica. Para o Judiciário, são sinais de que houve intenção real de comprometer a estabilidade do país.
Além disso, a afirmação de que a minuta do golpe “é baseada na Constituição” é um recurso de defesa frágil. A Constituição é um marco para proteger a democracia, e não para justificar atos que visem anulá-la. Discutir hipóteses constitucionais é legítimo no campo das ideias; planejar atos executórios contra o Estado de Direito, como apontam as investigações, é crime.
Mas foi o discurso sobre a possibilidade de buscar asilo que, paradoxalmente, tornou sua situação ainda mais vulnerável. Esse tipo de manifestação tem o poder de acender alertas no Judiciário, justificando, se necessário, medidas preventivas para garantir que Bolsonaro responda aos processos de maneira presencial e sem obstruções. Uma prisão preventiva poderia ser sustentada, alegando-se o risco de fuga ou comprometimento das investigações.
A defesa de Bolsonaro deveria adotar uma estratégia mais cautelosa, buscando minimizar danos e evitar declarações incendiárias. Ao contrário, o ex-presidente parece insistir em uma narrativa de vítima, que encontra cada vez menos ressonância fora de sua base mais radical.
Em tempos de alta polarização política, é crucial lembrar que líderes têm responsabilidades maiores. Bolsonaro, ao optar por declarações públicas que mais parecem bravatas, não apenas prejudica sua própria defesa como também mina a confiança nas instituições que tanto diz querer preservar.
Ao transformar uma questão judicial em um espetáculo político, o ex-presidente parece esquecer que o palco da Justiça não se dobra às pressões populistas. Suas palavras, no entanto, podem ser interpretadas como a corda que, cada vez mais, aperta o nó ao redor de sua liberdade.