Política e Resenha

Deolane Bezerra e a Banalização das Decisões Judiciais: Até Quando?

 

Na tarde desta segunda-feira (9), a advogada e influenciadora Deolane Bezerra protagonizou um episódio que chama a atenção da classe jurídica e põe em xeque o respeito ao sistema de justiça brasileiro. Após deixar a Colônia Penal Feminina do Recife, onde se encontrava sob custódia, Deolane foi colocada em prisão domiciliar por decisão do desembargador Eduardo Guilliod Maranhão, da 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Pernambuco. A decisão, no entanto, vinha acompanhada de restrições expressas, entre elas, a proibição de se manifestar em redes sociais, imprensa e outros meios.

Surpreendentemente, o que se viu na porta da unidade prisional foi um flagrante desrespeito à ordem judicial. Em tom desafiador e claramente contrariando a determinação do tribunal, Deolane fez declarações à imprensa criticando sua prisão e atacando a atuação das autoridades responsáveis pelo caso, em especial o delegado Paulo Gondim. Ao repetir que sua prisão seria “criminosa” e repleta de “abuso de autoridade”, ela desafiou a Justiça e o Estado de Direito, enquanto, paradoxalmente, reivindicava direitos que ela própria infringia com suas declarações.

A pergunta que se impõe ao analisarmos este cenário é: até quando o sistema de justiça tolerará tamanha afronta? Decisões judiciais, especialmente em casos de concessão de prisão domiciliar, carregam uma responsabilidade ímpar. Elas são elaboradas com base na confiança de que o beneficiado as cumprirá estritamente, respeitando as limitações impostas pelo tribunal. Quando essas determinações são desrespeitadas, o risco é a perda da credibilidade do Judiciário perante a sociedade, uma vez que o princípio fundamental de igualdade diante da lei parece ser minado.

Além disso, a postura da influenciadora acende um alerta para uma questão ainda maior: o papel das redes sociais na banalização das decisões judiciais e no fomento a comportamentos que fragilizam a autoridade dos tribunais. É inegável que figuras públicas, como Deolane Bezerra, possuem uma enorme capacidade de influenciar massas e moldar a opinião pública. Contudo, é justamente por isso que a observância rigorosa das normas jurídicas é essencial. A concessão da prisão domiciliar, por exemplo, pressupõe que o indivíduo demonstrará conduta compatível com a medida concedida, e não o oposto.

Neste contexto, é imprescindível que o Tribunal de Justiça de Pernambuco avalie com atenção a violação cometida e reaja de maneira proporcional. Não se trata apenas de garantir que a ordem judicial seja cumprida, mas também de afirmar que o sistema jurídico brasileiro não tolera desrespeito às suas instituições, independentemente da fama ou influência de quem comete tal afronta.

Se a classe jurídica e a sociedade como um todo não cobrarem rigor na aplicação da lei neste caso, abre-se um precedente perigoso, onde figuras públicas, amparadas pelo alcance midiático, se sentem acima das normas que regem nossa convivência democrática. A influência de personalidades como Deolane Bezerra não pode ser usada como escudo para burlar o cumprimento das decisões judiciais, sob pena de comprometimento da própria noção de justiça.

Assim, a resposta a este episódio será crucial para a reafirmação do Estado de Direito e para garantir que a balança da Justiça se mantenha firme. Afinal, como dizem os princípios que norteiam nossa Constituição: todos são iguais perante a lei.

Padre Carlos