Hospitais lotados, cemitérios incapazes de atender à demanda, velórios coletivos com caixões fechados: estas imagens ainda ecoam na memória dos baianos, lembranças dolorosas dos dias mais sombrios da pandemia da covid-19. Em abril de 2021, a Bahia registrava 189 mortes em um único dia, um triste capítulo na história recente. Três anos após a primeira vacinação contra a covid-19 no estado, os efeitos da imunização são visíveis, mas seis milhões de baianos ainda não completaram seu esquema vacinal.
A enfermeira Maria Angélica de Carvalho Sobrinho ficou marcada como a primeira pessoa a receber a vacina na Bahia, um momento simbólico de esperança diante da devastação causada pela pandemia. Desde então, mais de 31 mil vidas foram perdidas para a covid-19 no estado, e novas doses de vacina foram disponibilizadas. Contudo, a adesão não atingiu o desejado, com 86% da população baiana não buscando completar seu esquema vacinal.
O medo, que antes impulsionava a procura pelos postos de vacinação, agora parece reduzido. Especialistas alertam para os perigos dessa complacência, especialmente diante do aumento de casos leves que, apesar de menos severos, ainda apresentam letalidade. A médica Áurea Paste destaca a importância de reintegrar a vacinação ao calendário básico de imunização, reconhecendo sua relevância desde o início da pandemia.
Recentes dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) revelam que, somente entre 8 e 15 de janeiro, 20 pessoas perderam a vida por complicações da covid-19 no estado. Um lembrete contundente de que a ameaça persiste, mesmo que agora se manifeste de forma menos intensa.
A engenheira agrônoma Aline Torres relembra os momentos angustiantes de 2020, quando sua mãe, diante das complicações da covid-19, precisou ser transferida de Barreiras para Salvador em busca de tratamento intensivo. A vacinação tornou-se um pilar fundamental para a família Torres, mas infelizmente, esse compromisso não é compartilhado por toda a população baiana.
Em localidades como Luís Eduardo Magalhães, no oeste baiano, a adesão à vacinação é alarmantemente baixa. A coordenadora de imunização de Dário Meira, Núbia da Silva, aponta para as dificuldades em convencer a população a se vacinar contra a covid-19, com muitos sendo influenciados por informações falsas e acreditando na banalização da doença.
A infectologista Clarissa Cerqueira destaca a importância de manter as doses de reforço atualizadas, alertando que a falta de proteção pode representar um risco tanto para os não vacinados quanto para aqueles ao seu redor.
O desafio agora é claro: reacender a conscientização sobre a importância da vacinação e superar as barreiras impostas por informações equivocadas. A pandemia não acabou, e a proteção coletiva ainda depende da participação ativa de cada cidadão. Que a Bahia, que já enfrentou momentos tão difíceis, possa agora unir-se para garantir a segurança e a saúde de todos. Afinal, a vacinação é a luz que nos guia para fora das sombras da pandemia.