A história do Brasil, permeada por capítulos de lutas e conquistas, carrega consigo cicatrizes profundas, como aquelas deixadas pela escravidão no século XIX. Em um período de avanços na legislação, vimos a maldade no tratamento aos escravos ser mitigada, mas a herança nefasta do sistema persiste, manifestando-se de maneira sorrateira na educação do século XXI.
Ao contemplarmos o cenário educacional atual, é imperativo refletir sobre a continuidade da trincheira da escravidão que se estabeleceu na forma como distribuímos o conhecimento em nosso país. O abolicionismo do século XIX, que culminou na libertação dos escravos, não foi suficiente para romper completamente com as correntes que aprisionam a educação no Brasil.
O Fundeb, embora tenha evitado uma catástrofe iminente ao ser prorrogado, revela que, mesmo após uma década de vigência, a educação brasileira ainda não alcançou o salto qualitativo tão necessário. Parabenizações são devidas àqueles que lutaram pela sua continuidade, mas é essencial reconhecer que nenhum deles foi o “Nabuco” capaz de ser o arquiteto da “Lei Áurea do século XXI” para a educação.
A educação no Brasil permanece entre as piores e mais desiguais do mundo, atuando como um entrave ao desenvolvimento econômico e à construção de uma sociedade justa. O desafio que se apresenta vai além de leis e medidas isoladas; é necessário uma estratégia robusta e abrangente.
Para concluir verdadeiramente a abolição educacional, precisamos enxergar a educação de base como uma questão de alcance nacional. A implementação de um Sistema Unificado Nacional de Educação é vital, acompanhado por uma carreira federal digna para os professores e padrões nacionais rigorosos para as estruturas escolares.
Imagine todas as escolas operando em horário integral, como uma concessão federal para todos os brasileiros, independentemente de sua renda ou localização geográfica. Essa visão audaciosa é a estratégia educacional que pode derrubar a última trincheira da escravidão, libertando-nos das amarras que limitam nosso desenvolvimento e construindo, finalmente, a tão almejada justiça social.
A Abolição do século XXI requer uma revolução educacional, não apenas como uma resposta legislativa, mas como uma mudança de mentalidade que coloca a educação no centro da transformação social. Nesse caminho, celebramos o passado, honramos os esforços presentes e trilhamos rumo a um futuro onde a educação é verdadeiramente livre, igualitária e entre as melhores do mundo.