O Brasil, uma terra de contrastes, se vê novamente diante de um desafio social que permeia sua história: a desigualdade. O recente relatório do Ministério da Fazenda, divulgado em 29 de dezembro, revela números impactantes sobre a distribuição da renda e da riqueza no país, extraídos minuciosamente dos dados do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) dos anos 2021 e 2022.
Os números são claros e incontestáveis. Em 2022, apenas 10% dos declarantes de Imposto de Renda concentram mais da metade da renda total do país, enquanto mais da metade dos contribuintes, com menor renda, ficam com apenas 14% do bolo. Essa disparidade se reflete em uma concentração ainda maior quando se trata de riqueza, com os 10% mais ricos detendo 58% da riqueza nacional.
O relatório também lança luz sobre as isenções de Imposto de Renda, destacando que a maior delas recai sobre os lucros e dividendos, uma realidade que está em discussão no Congresso Nacional. Com 35% do total, essa isenção beneficia os acionistas das empresas, acentuando a desigualdade. Em segundo lugar, as pequenas e microempresas optantes do Simples também usufruem de uma considerável isenção.
A análise das despesas dedutíveis revela um cenário preocupante. Quanto maior a renda, maiores são as despesas dedutíveis apresentadas, com os 10% mais ricos concentrando 41% do valor total. As despesas médicas e da Previdência Social lideram as deduções, evidenciando um sistema que, de certa forma, perpetua as disparidades.
Além da desigualdade econômica, o estudo também aponta para a desigualdade de gênero e regional. A representação feminina entre os declarantes de imposto é menor do que a proporção de mulheres na população economicamente ativa. As diferenças regionais são gritantes, com o Distrito Federal ostentando a maior renda média, enquanto o Maranhão enfrenta uma realidade muito menos favorável.
Diante desses dados, somos desafiados a refletir sobre o tipo de sociedade que queremos ser. A desigualdade, seja ela econômica, de gênero ou regional, não é apenas uma questão de números, mas um reflexo de nossas escolhas como sociedade. A transformação requer uma análise profunda de nossas políticas e uma determinação coletiva para construir um futuro mais justo e igualitário.