Política e Resenha

Dom Celso e o Inabalável Perdão da Natureza: Reflexões de um Discípulo

 

A saudade é um sentimento que, muitas vezes, nos remete a momentos e figuras que marcaram profundamente nossas vidas. Hoje, sinto a ausência de Dom Celso, um bispo cuja presença transcendeu o papel convencional de líder eclesiástico, para se tornar um verdadeiro pai espiritual para tantos, inclusive para mim. Sua influência não se restringiu apenas à orientação religiosa; ele moldou o caráter de homens e pastores, deixando um legado que ainda reverbera na vida daqueles que tiveram o privilégio de conviver com ele.

Dom Celso era um homem de profunda sabedoria, cuja palavra carregava o peso de anos de meditação, fé e experiência. Uma de suas lições mais marcantes para mim foi quando, em uma conversa franca e paternal, ele me disse: “Carlos, Deus perdoa sempre! Os homens perdoam algumas vezes! Mas a natureza, nunca perdoa!”. Essa frase, aparentemente simples, carrega em si uma profundidade que merece reflexão, especialmente nos dias de hoje.

Em primeiro lugar, Dom Celso nos lembrava da infinita misericórdia divina. O perdão de Deus é um dos pilares centrais da fé cristã, um reflexo do amor incondicional e eterno do Criador por suas criaturas. É um convite constante à conversão, ao arrependimento sincero e à busca pela retidão. Mas essa misericórdia divina, por mais vasta que seja, não deve ser entendida como uma licença para a imprudência ou para a negligência.

Os homens, por outro lado, são falíveis e muitas vezes limitados em sua capacidade de perdoar. A convivência humana é marcada por conflitos, mágoas e desentendimentos que, em muitas ocasiões, são difíceis de superar. Dom Celso, com sua frase, nos alertava sobre a importância do perdão entre os homens, mas também sobre a fragilidade das relações humanas e a necessidade de cultivarmos a empatia e o entendimento em nossas interações diárias.

Por fim, ele nos chamava a atenção para a severidade da natureza. Diferente de Deus e dos homens, a natureza segue suas próprias leis, implacáveis e justas. A Terra, nossa casa comum, responde às nossas ações de maneira direta e, muitas vezes, devastadora. A crescente degradação ambiental, as mudanças climáticas, e os desastres naturais que testemunhamos hoje são um reflexo claro do que Dom Celso tão sabiamente afirmou: a natureza não perdoa. Quando a tratamos com desrespeito, ela nos cobra de forma impiedosa.

Dom Celso, com sua presença paternal e seus ensinamentos atemporais, deixou um legado que nos chama à reflexão e à ação. Sua lembrança me faz ponderar sobre o papel de cada um de nós na preservação da criação, no cultivo do perdão e na busca incessante pela harmonia. Sentir saudade de Dom Celso é, em última análise, sentir saudade de um tempo em que os líderes espirituais não apenas guiavam suas ovelhas, mas também as moldavam com firmeza e amor.

A memória de Dom Celso vive em seus ensinamentos e no caráter daqueles que ele ajudou a formar. Que possamos honrar sua memória, não apenas com palavras, mas com ações que reflitam a sabedoria que ele tão generosamente compartilhou.