Política e Resenha

EM DEFESA DO PAPA FRANCISCO: A COVARDIA DA DIFAMAÇÃO PÓSTUMA

 

 

 

 

É com profunda consternação que me deparo com o texto publicado pelo senhor José Carlos Chixaro sobre o Papa Francisco, horas após seu falecimento. O que testemunhamos não é apenas um ataque à memória de um homem que acaba de partir, mas um desrespeito flagrante à própria essência do debate civilizado e da decência humana básica.

Criticar aquele que não pode mais se defender é um ato de inequívoca covardia intelectual. O momento da morte de uma figura pública — especialmente de um líder espiritual que buscou construir pontes em um mundo dividido — deveria inspirar reflexão e respeito, não tornar-se palco para manifestações de ódio ideológico.

O pontificado de Francisco foi marcado precisamente por aquilo que seus detratores parecem incapazes de praticar: diálogo, misericórdia e uma preocupação genuína com os marginalizados. Enquanto alguns preferem transformar o cristianismo em trincheira política, Francisco resgatou o princípio evangélico fundamental: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.”

Esse texto não representa uma crítica legítima, mas um manifesto carregado de afirmações tendenciosas e interpretações deliberadamente distorcidas de gestos pastorais. A recepção de líderes políticos de diversos espectros não significou endosso a ideologias, mas o reconhecimento da necessidade do diálogo — algo que Jesus praticou ao sentar-se com publicanos e pecadores, para escândalo dos puristas de sua época.

O que observamos neste artigo não é defesa da tradição católica, mas a instrumentalização da fé para agendas políticas particulares. A Igreja de Cristo não pertence à direita nem à esquerda — pertence a Deus e aos que buscam seguir o caminho do amor.

Não podemos permitir que o debate sobre o legado de um Papa se reduza a uma disputa ideológica rasteira. Francisco deixa um legado complexo que merece análise séria, respeitosa e contextualizada, não caricaturas produzidas no calor da emoção política.

A sociedade brasileira, tão marcada pela polarização destrutiva, precisa urgentemente redescobrir o valor do respeito pelas diferenças e pela dignidade humana — inclusive a dignidade dos mortos. É justamente isso que o Papa Francisco tentou nos ensinar durante seu pontificado.

Que possamos honrar sua memória não com bajulação acrítica, mas com a disposição genuína para construir pontes onde outros insistem em erguer muros. Este seria o verdadeiro testemunho cristão em um tempo de divisões.

Padre Carlos