Política e Resenha

Entre Técnicos e Políticos: Como a Prefeita Sheila Montou o Time Vencedor

 

A história do futebol nos oferece uma curiosa analogia para refletir sobre a política, especialmente sobre a administração pública. João Saldanha, um técnico de personalidade forte e responsável por montar a base da seleção tricampeã de 1970, teria dito, em resposta a uma provocação de Zagallo, que preferia treinar onze craques indisciplinados do que onze pernas de pau bem comportados. Para Saldanha, o que importava era a habilidade em campo, e não se os jogadores seguiam ou não padrões de comportamento socialmente aceitos. A história se repete de diferentes formas em nossa política local, quando a discussão se volta para uma questão essencial: o que é mais importante para a cidade, um prefeito técnico ou um político?

Recentemente, essa questão tem gerado debates acalorados em Vitória da Conquista. Com um mandato bem-sucedido e uma gestão amplamente elogiada, a prefeita Sheila Lemos tem demonstrado que sua liderança transcende os rótulos de “técnica” ou “política”. Sua administração tem sido marcada pela eficiência em colocar a máquina pública para funcionar, e muitos atribuem esse sucesso ao perfil técnico de sua gestão. No entanto, a prefeita também tem mostrado que a técnica, sozinha, não faz milagres. É preciso um entendimento profundo de que a política, com todas as suas nuances e complexidades, é o palco onde se desenrola a ação governamental.

Durante a última campanha eleitoral, vimos uma clara preferência dos eleitores por um gestor com perfil técnico. O desgaste dos partidos políticos e o descrédito da classe política, em geral, têm levado muitos a acreditar que governos sem interferência política direta seriam mais eficazes. Entretanto, esse raciocínio simplista desconsidera a natureza intrínseca da administração pública. Governar, seja no nível municipal, estadual ou federal, é um ato essencialmente político. Mesmo um técnico, por mais preparado que seja, precisa navegar pelas águas da política para implementar suas ideias e projetos.

O grande mérito do governo de Sheila Lemos foi justamente entender essa dualidade e integrá-la de forma coesa em sua administração. Ela não apenas se cercou de técnicos capacitados, mas também de políticos com formação técnica, criando uma equipe que soube aliar o conhecimento especializado com a habilidade política. O equilíbrio foi alcançado não ao isolar a política, mas ao reconhecer que ela é o meio necessário para viabilizar qualquer gestão, principalmente em tempos de crise.

Um dos desafios enfrentados por muitos governos é justamente a falta de diálogo entre políticos e técnicos. Em administrações mal estruturadas, secretarias acabam sendo ocupadas por figuras que, em muitos casos, não têm conhecimento técnico da área que comandam, sendo indicados por meras razões partidárias. O resultado costuma ser desastroso, com decisões equivocadas e uma incapacidade de fazer a máquina pública funcionar de forma eficiente.

Sheila, desde o início de seu mandato, deixou claro que isso não aconteceria em sua gestão. “Estou montando um governo com perfil eminentemente técnico”, afirmou ela, destacando a importância de que até os políticos precisem ter uma formação técnica adequada e um entendimento claro das necessidades das pastas que assumem. E foi exatamente essa mentalidade que fez a diferença.

Críticas e ceticismos sempre surgem. No início, muitos duvidaram que uma equipe montada com esse perfil técnico-político pudesse se manter coesa. E, de fato, ao longo do mandato, ajustes e mudanças foram necessários. Mas o que distingue a gestão de Sheila Lemos é sua fidelidade aos princípios de eficiência e responsabilidade. Mesmo quando foi necessário substituir membros da equipe, a prefeita manteve-se firme em sua recusa ao fisiologismo e às pressões por cargos por meros interesses eleitorais.

Assim como João Saldanha entendia que não bastava ter bons moços no campo, mas sim jogadores que realmente soubessem o que estavam fazendo com a bola nos pés, uma boa gestão pública precisa de líderes que, além de bem-intencionados, conheçam profundamente os mecanismos da administração. Sheila soube montar um time que entende a política como ferramenta de transformação social, sem perder de vista a importância de uma base técnica sólida para dar sustentação às suas decisões.

A lição que fica é clara: não se trata de escolher entre um prefeito técnico ou político. O que realmente importa é a capacidade de equilibrar essas duas dimensões, reconhecendo que ambas são indispensáveis para uma gestão eficiente. Em Vitória da Conquista, a prefeita Sheila Lemos tem mostrado que é possível construir uma administração coesa, capaz de dialogar com a política sem se perder em seus vícios, e ao mesmo tempo fazer a máquina funcionar de maneira exemplar.

A pergunta, portanto, não deveria ser se preferimos um prefeito técnico ou político, mas sim se preferimos uma gestão que sabe unir o melhor dos dois mundos. Porque, no final das contas, o que interessa é o resultado em campo – ou, no caso, o impacto positivo na vida das pessoas que a cidade serve.