Política e Resenha

Esquerda Desconstrói seu Próprio Discurso ao Adotar Militarização na Política

 

Por décadas, a atuação dos profissionais da segurança pública esteve circunscrita às corporações policiais e ao combate à criminalidade. Contudo, um fenômeno intrigante tem se disseminado pelo país: a migração crescente de delegados, militares e outros agentes da lei para a esfera política. Esta tendência, longe de ser um caso isolado, vem ganhando força e permeia os quadros partidários de norte a sul do Brasil.

Em Vitória da Conquista, essa realidade não poderia ser mais evidente. Da vice da vereadora Lúcia Rocha, que é delegado, à presença de uma delegada como vice na chapa petista e de um coronel da PM próximo às hostes governistas, os exemplos se multiplicam. Mas quais seriam as motivações por trás desse êxodo da farda para a vida pública?

Uma explicação plausível reside no fato de que a insegurança se tornou uma das principais preocupações nacionais. Diante desse cenário, esses profissionais, balizados por sua expertise e vivência diária, podem acreditar ser chegada a hora de levar suas perspectivas para o debate político visando soluções mais concretas. Todavia, ao mesmo tempo em que essa postura é louvável, suscita dúvidas sobre as verdadeiras intenções em jogo.

Afinal, não seria esse um claro sinal de que a segurança pública se sobrepõe a prioridades cruciais como saúde e educação? Enquanto hospitais agonizam e escolas padecem com recursos escassos, ganha proeminência a ascensão política daqueles que, por vocação, deveriam estar nas ruas protegendo vidas e patrimônios. Um paradoxo que certamente desafia nossa escala de valores como sociedade.

Outro ponto nevrálgico reside no potencial desequilíbrio de forças que esse fenômeno pode gerar. Embora médicos e professores exerçam papéis fundamentais, raramente dispõem de meios para definir os rumos das políticas públicas. Os delegados e militares, por outro lado, têm a seu favor não apenas o respaldo técnico, mas também um intrincado aparato repressivo que, mal utilizado, pode facilmente corromper o jogo democrático.

Curiosamente, essa tem sido uma estratégia recorrente da direita conservadora brasileira, utilizada com sucesso por nomes como Sergio Moro e Wilson Witzel. Agora, paradoxalmente, setores progressistas também parecem dispostos a dançar essa mesma valsa ao abraçar representantes da segurança pública em suas fileiras, numa espécie de isomorfismo político preocupante.

Não há dúvidas de que a segurança é uma pauta primordial no Brasil. Porém, o caminho trilhado até aqui tem sido fadado ao fracasso, com um sistema prisional falido, milícias e facções criminosas cada vez mais poderosas e os direitos humanos sendo sistematicamente violados. Talvez seja chegada a hora de repensar nossas prioridades e caminhos, resgatando valores essenciais como a educação e a dignidade da pessoa humana.

Em suma, enquanto é compreensível o apelo que esses profissionais exercem sobre uma população amedrontada, devemos ter cautela. A soberania deve estar sempre com o povo e suas instituições democráticas, e não com as forças coercitivas, por mais competentes que sejam. Apenas com esse equilíbrio preservado, tornar-se-á possível construir uma nação verdadeiramente segura e justa para todos.