Política e Resenha

Expoconquista: Um Patrimônio Econômico em Risco de Desaparecer

 

 

 

 

 

A retomada da Expoconquista em 2024, após anos de espera, representou muito mais que a simples volta de uma feira agropecuária. Simbolizou a recuperação de um vetor de desenvolvimento regional e um reconhecimento da força do agronegócio como pilar econômico de Vitória da Conquista e da Bahia. No entanto, o que deveria ser a consolidação de um evento estruturante para a economia local pode se transformar em mais uma promessa efêmera diante da ameaça de cancelamento por falta de patrocínio.

O retorno do evento no Parque de Exposições Teopompo de Almeida reuniu elementos que sinalizavam um compromisso com sua continuidade: entrada gratuita que democratizou o acesso, presença de autoridades estaduais como o governador Jerônimo Rodrigues e apoio financeiro expressivo por meio da emenda parlamentar de R$ 500 mil do deputado Waldenor Pereira. Todos esses fatores convergiam para a institucionalização da Expoconquista como uma política pública permanente de fomento ao agronegócio local.

Paradoxalmente, observamos agora um cenário de desarticulação e descompromisso. A prefeitura mantém-se como sustentáculo solitário, enquanto as demais esferas governamentais – estadual e federal – parecem retroceder em seu apoio, demonstrando que o evento não foi assimilado como um ativo estratégico permanente, mas como uma ação pontual, subordinada a agendas políticas circunstanciais.

A formação de uma comissão parlamentar municipal, composta pelos vereadores Ivan Cordeiro, Ricardo Gordo, Luis Carlos Dudé e Léia de Quinho, tenta preencher o vácuo deixado pelo recuo dos outros entes governamentais. Esta iniciativa, embora louvável, evidencia uma fragilidade institucional na governança do evento: quando personalidades políticas individuais precisam intervir para garantir a continuidade de um patrimônio econômico coletivo, estamos diante de um sintoma de falta de políticas estruturantes.

A Expoconquista não pode ser pensada na lógica da instantaneidade política. Seu valor transcende ciclos eleitorais e interesses partidários, configurando-se como um catalisador do desenvolvimento sustentável regional. O agronegócio, por sua natureza, requer planejamento de longo prazo e estabilidade institucional para prosperar. Um evento que o representa e fortalece não pode estar sujeito às oscilações de vontades políticas sazonais.

A sugestão de que a comissão visite novamente o deputado que destinou recursos no ano anterior aponta para uma realidade preocupante: a dependência de relações pessoais para obtenção de recursos públicos que deveriam ser alocados por critérios técnicos e estratégicos. Embora pragmática no curto prazo, esta solução perpetua um modelo de gestão em que políticas públicas se confundem com favores pessoais.

O cenário atual nos convida a refletir sobre modelos mais sustentáveis para a realização da Expoconquista. Talvez seja o momento de pensar em estruturas de governança mais resilientes, que integrem o poder público nas três esferas, mas também o setor privado e entidades representativas do agronegócio. Um fundo permanente com regras claras de gestão, por exemplo, poderia proteger o evento das instabilidades orçamentárias governamentais.

É fundamental compreender que a Expoconquista representa a conexão entre o urbano e o rural, entre a tradição e a inovação tecnológica no campo. Seu cancelamento não seria apenas a perda de um evento, mas o enfraquecimento de um elo na cadeia de valor do agronegócio regional, com impactos diretos na economia e na identidade cultural de Vitória da Conquista.

O momento exige que as autoridades superem a visão de curto prazo e reconheçam a dimensão estratégica da Expoconquista para o desenvolvimento regional. Não se trata apenas de viabilizar financeiramente uma feira, mas de fortalecer um ecossistema produtivo que gera riqueza, emprego e orgulho para a população conquistense.

A continuidade da Expoconquista deveria estar acima de disputas políticas, firmando-se como um compromisso de Estado com o desenvolvimento regional. Caso contrário, continuaremos reféns de ciclos de retomadas e interrupções que fragilizam o agronegócio e comprometem o futuro econômico de toda uma região.