Há momentos na vida em que o passado nos assombra com uma doçura quase insuportável. É como se as flores muxas, trouxessem consigo os ecos de um amor que já não existe, mas que ainda vive em nossas memórias. Oh, eu queria tanto que você se lembrasse dos dias felizes em que éramos jovens. Naquele tempo, a vida era mais bela, e o sol brilhava mais forte do que hoje. Essas lembranças, frágeis como um cristal quebrado, são como um perfume que se dissipa no ar, mas que, por um instante, nos transporta de volta a um lugar que já não podemos alcançar.
O Peso das Lembranças
As memórias de um amor perdido são como folhas secas que o vento carrega na noite fria do esquecimento. Elas dançam brevemente diante de nossos olhos antes de desaparecerem, mas, mesmo assim, eu não esqueci. A canção que você cantava ainda ressoa em meu coração – uma melodia suave que se parece conosco, com o que fomos e com o que poderíamos ter sido. Você me amava, e eu te amava, habitávamos juntos um mundo onde o tempo parecia suspenso, um instante eterno que a vida, em sua crueldade silenciosa, nos roubou.
Porque é assim que a vida age: com uma delicadeza traiçoeira, ela separa aqueles que se amam. Sem alarde, sem aviso, apaga na areia os passos dos amantes que o destino afastou. E o que nos resta? As lembranças e as saudades, frágeis como uma flor sem brilho, à espera de um vento que as leve para longe. Mas elas não vão. Elas ficam, cravadas em nós, testemunhas mudas de um passado que não podemos mais tocar.
A Doçura e a Amargura do Que Foi
Há uma melancolia agridoce nisso tudo. Doce, porque essas lembranças nos trazem de volta os risos compartilhados, os olhares trocados em silêncio, as promessas sussurradas ao vento como versos de uma poesia inacabada. Amarga, porque cada uma dessas imagens carrega o peso da ausência, o vazio que se instalou onde antes havia calor. Mas, mesmo assim, eu não esqueci. E talvez – quem sabe? – em algum canto distante do mundo, você também não tenha esquecido.
Penso em Vinicius de Moraes, que escreveu sobre o amor como algo que “é eterno enquanto dura”. E se o amor perdido, mesmo não sendo mais palpável, continuasse a viver em nós, transformado em saudade? O tempo, esse artesão implacável, molda nossas memórias, suavizando as arestas do que doeu e tingindo de ouro o que foi belo. O que resta é uma dança melancólica entre o que foi e o que poderia ter sido, um balé de sombras que se move ao som de uma canção que não cessa.
O Eco de uma Canção Inacabada
Como diz a chanson: As folhas mortas se juntam na pá, e o vento do norte as leva. Mas as lembranças, essas resistem. Elas são o testemunho de um amor que, ainda que perdido, brilha em nossa alma como o sol de outrora – distante, mas quente o suficiente para nos fazer sentir vivos. Carregamos em nossos corações a melodia que nos unia, os acordes de um tempo em que o mundo parecia conspirar a nosso favor. E seguimos, mesmo sabendo que o tempo é um rio que não para, arrastando consigo os fragmentos do que fomos.
Oh, eu queria tanto que você se lembrasse. Que, em algum lugar, você também ouvisse o sussurro dessas lembranças, sentisse a doçura e a amargura que elas trazem. Que, mesmo separados pela vida e pelo tempo, pudéssemos nos reencontrar na música do passado, na dança das folhas mortas ao vento. Porque, no fim das contas, o amor perdido é como uma canção que nunca termina – uma melodia que continua a ecoar em nossos corações, mesmo quando o silêncio da distância parece querer abafá-la.
Um Brinde às Memórias
Talvez haja beleza nisso, na permanência do que se foi. Talvez o amor perdido, com toda a sua melancolia, seja uma prova de que fomos capazes de sentir profundamente, de viver com uma intensidade que o tempo não consegue apagar. Assim como na velha canção francesa, as folhas mortas podem se desfazer ao vento, mas as lembranças que elas carregam permanecem, como estrelas que brilham em um céu longínquo. E assim, seguimos em frente, carregando o passado como um fardo leve, um eco doce que nos lembra de quem fomos – e de quem, em algum lugar dentro de nós, ainda somos.
Padre Carlos