Política e Resenha

Frei Gilson: O Pregador das Redes que Mexe com o Brasil

 

 

 

 

Frei Gilson, um nome que ressoa nas madrugadas de milhões de brasileiros, é mais do que um simples padre. Com mais de 7 milhões de seguidores nas redes sociais, ele se tornou um fenômeno ao liderar uma quaresma digital que reúne fiéis de diversas religiões em orações transmitidas ao vivo às 4h da manhã. Seu alcance, amplificado por plataformas como Instagram e YouTube, reflete a transformação da espiritualidade na era digital. Contudo, sua popularidade vem acompanhada de controvérsias, especialmente por declarações sobre papéis de gênero que dividem opiniões e atraem tanto críticas quanto o apoio de figuras políticas como Jair Bolsonaro e Nikolas Ferreira. Quem é esse líder religioso que mobiliza milhões e por que suas palavras geram tanto debate?

Quem é Frei Gilson?

Gilson da Silva Pupo Azevedo, conhecido como Frei Gilson, nasceu em 17 de dezembro de 1986, em São Paulo. Aos 18 anos, ingressou na vida religiosa, tornando-se parte da Ordem Carmelita Mensageiros do Espírito Santo, em Nova Almeida (ES). Ordenado padre em 2013, ele comandou por nove anos a Paróquia Nossa Senhora do Carmo, na Diocese de Santo Amaro, antes de ganhar projeção nacional. Além de sacerdote, Frei Gilson é cantor, com mais de 1 milhão de ouvintes mensais no Spotify, onde suas músicas devocionais, como “Eu Seguiarei” e “Tu És o Centro”, conquistam fiéis. Sua trajetória combina contemplação espiritual e um talento nato para a comunicação digital, o que o levou a acumular mais de 6 milhões de inscritos no YouTube e 7 milhões de seguidores no Instagram.

A Quaresma Digital: Fé na Era das Redes

Desde 2020, Frei Gilson transformou a quaresma, um ritual tradicional católico que antecede a Páscoa, em um evento digital de proporções impressionantes. Suas transmissões ao vivo, iniciadas às 4h, começaram como um sacrifício pessoal durante a pandemia e evoluíram para um fenômeno de massa. Em 5 de março de 2025, uma de suas lives alcançou mais de 1 milhão de espectadores simultâneos, um marco que poucos líderes religiosos no mundo podem igualar. Esse sucesso não se limita aos católicos: fiéis de outras religiões participam, atraídos por sua mensagem de esperança e conexão em tempos de incerteza. A quaresma digital de Frei Gilson é um exemplo claro de como as redes sociais podem reinventar práticas espirituais, oferecendo um espaço de comunhão virtual que transcende barreiras geográficas e denominacionais.

Controvérsias: As Palavras que Dividem

Nem tudo, porém, é harmonia. No Dia Internacional da Mulher, 8 de março de 2025, Frei Gilson protagonizou uma polêmica ao afirmar em uma pregação que “a fraqueza da mulher é sempre querer mais” e que “Deus deu ao homem a liderança”. Essas declarações, que ecoam uma visão tradicional dos papéis de gênero, foram recebidas com indignação por grupos feministas e progressistas, que as classificaram como misóginas e retrógradas. Críticos argumentam que tais palavras, vindas de um líder com milhões de seguidores, podem reforçar estereótipos prejudiciais e perpetuar desigualdades em uma sociedade que ainda enfrenta altos índices de violência doméstica e discriminação de gênero. Não é a primeira vez que ele causa alvoroço: em 2022, durante uma “live patriota”, pediu a Deus para “livrar o Brasil do flagelo do comunismo”, alinhando-se a uma retórica conservadora que polariza o país.

Apoio Político: Religião e Direita de Mãos Dadas

A resposta às críticas veio rápido, e de figuras de peso. O ex-presidente Jair Bolsonaro defendeu Frei Gilson no X, chamando-o de “fenômeno em oração” e acusando seus detratores de serem “esquerdistas anti-cristãos”. O deputado Nikolas Ferreira também o respaldou, evidenciando uma aliança entre o sacerdote e a política de direita. Essa conexão não é isolada: reflete uma tendência crescente no Brasil, onde líderes religiosos conservadores e políticos de direita se unem em torno de valores tradicionais, mobilizando eleitores e consolidando influência. Contudo, essa proximidade levanta questionamentos sobre a separação entre estado e igreja, um pilar das democracias laicas, e sobre o risco de a religião ser instrumentalizada para fins políticos.

O Peso da Influência

Frei Gilson é, sem dúvida, uma figura complexa. Sua capacidade de reunir milhões em oração e sua música devocional são méritos inegáveis, que tocam o coração de muitos em busca de sentido espiritual. No entanto, suas declarações polêmicas, especialmente sobre gênero, carregam um peso que não pode ser ignorado. Em uma era digital, onde cada palavra é amplificada e eternizada, líderes com tamanha audiência têm uma responsabilidade acrescida. Suas falas podem moldar a visão de jovens seguidores sobre relacionamentos e papéis sociais, potencialmente perpetuando normas patriarcais em um país que luta por igualdade.

Por outro lado, seria injusto reduzi-lo às controvérsias. Sua quaresma digital prova que a fé pode se adaptar ao século XXI, oferecendo consolo em tempos de solidão digital. Mas essa inovação traz consigo um desafio: como usar essa influência de forma inclusiva? Enquanto Bolsonaro e seus aliados o celebram, é preciso perguntar: que mensagem um líder religioso deve传递 (transmitir) a milhões? A resposta não é simples, mas passa por um diálogo que respeite crenças sem abrir mão de questionar ideias que possam ferir a dignidade humana.

Conclusão: Um Chamado ao Diálogo

Frei Gilson é um espelho das contradições do Brasil contemporâneo: um país onde a fé move multidões, mas onde visões conservadoras e progressistas frequentemente colidem. Sua quaresma digital é um feito notável, mas suas palavras sobre gênero e sua aliança com a direita política exigem reflexão. Em um mundo conectado, líderes como ele têm o poder de unir, mas também de dividir. Cabe à sociedade – e ao próprio Frei Gilson – buscar um caminho onde a espiritualidade eleve a todos, desafiando preconceitos em vez de reforçá-los. A quaresma, afinal, é tempo de renovação. Que ela inspire não só orações, mas também um compromisso com uma sociedade mais justa.