Hoje recebi de um grande amigo alguns manuscritos da saudosa vereadora Ilza Matos, e o texto contido naquele antigo documento revela a trajetória e a vida das heroínas conquistenses. Em meio às páginas manuscritas que preservam o tempo e a memória, encontramos um tributo raro, um resgate do passado que ecoa até os dias atuais. A história de uma cidade é tecida por suas lutas, seus sonhos, mas, acima de tudo, pelas pessoas que a construíram. E aqui, diante dos olhos, temos o testemunho de uma grande mulher, cujos passos firmes na política de Vitória da Conquista desafiaram as convenções e moldaram a sociedade local.
A vereadora Iza Lya V. Matos, ao escrever sobre figuras notáveis, presta um serviço que vai além de sua função legislativa: ela garante que as vozes que romperam as barreiras do silêncio não sejam esquecidas. Em um momento em que as mulheres mal podiam votar, essas pioneiras ousaram sonhar e, mais do que isso, realizar. O nome de uma dessas heroínas, que a vereadora homenageia, é sinônimo de resistência e perseverança. Sua vida, iniciada em 1893 e dedicada à luta por justiça, encerrou-se em 1983, mas seu legado permanece vivo.
Jeny de Oliveira Rosa, conhecida como Dona Zaza, nasceu em Vitória da Conquista em 1893 e era filha do coronel José Fernandes de Oliveira Gugé e de Joana Angélica Santos Fernandes de Oliveira. Casou-se com Marcelino Garcia Rosa e teve oito filhos. Herdou do pai a vocação política e, em 1934, incentivou as mulheres conquistenses a se tornarem eleitoras após a conquista do voto feminino no Brasil. Liderou a ala feminina do diretório municipal da Ação Autonomista da Bahia e, em 1936, tornou-se a primeira mulher vereadora de Vitória da Conquista, defendendo a candidatura de Régis Pacheco. Dona Zaza teve uma longa carreira de 50 anos na política local, sendo uma influente conselheira até sua morte.
Essa mulher, nascida em uma época em que o patriarcado ditava os rumos do poder, destacou-se na batalha pelo voto feminino e pelos direitos das mulheres. No turbulento cenário político de 1934, quando o direito ao voto foi finalmente concedido às brasileiras, ela não apenas comemorou, mas também se lançou à arena política, tornando-se uma das primeiras vereadoras eleitas no país. E assim, Vitória da Conquista viu florescer a força das mulheres em seus palanques.
É importante refletirmos sobre o significado dessa trajetória. Não foi apenas uma vitória eleitoral, foi uma ruptura com séculos de opressão. Essa mulher carregava nos ombros o peso de gerações que não puderam se expressar, e com sua coragem, abriu as portas para outras que vieram depois dela. Como Filósofo, Teólogo e Articulista Político é impossível não nos emocionarmos diante da grandeza de um feito como esse, especialmente quando inserido no contexto de uma cidade que, até então, era regida por valores tradicionais.
A vereadora, com justiça, propôs que o nome dessa mulher fosse gravado na memória de Vitória da Conquista, assim como nas leis municipais. E é com a mesma justiça que hoje recordamos sua luta. As palavras manuscritas naquele caderno, ainda que singelas, carregam a força de uma homenagem sincera, mostrando que a política não é apenas o lugar de debates partidários, mas também de reconhecimento, de gratidão e de reparação histórica.
O documento também nos leva a refletir sobre a importância de preservar as memórias locais. Em um tempo de tanta informação, quando a história corre o risco de ser apagada pelo imediatismo do presente, o resgate de trajetórias como essa nos lembra do valor da resistência. Vitória da Conquista, uma cidade que muitas vezes foi esquecida pelos grandes livros de história, encontra em seus próprios anais as sementes de sua grandeza. E essas sementes foram plantadas por pessoas como a mulher descrita por Iza Lya Matos.
Este texto é um grito contra o esquecimento. É uma defesa da memória e da justiça, especialmente para com aquelas que, durante tanto tempo, foram invisíveis. As mulheres de Vitória da Conquista — e de todo o Brasil — têm nessa história um espelho, um farol que ilumina o caminho da emancipação e da equidade.
Assim, ao revisitar essas linhas manuscritas, somos convidados a valorizar não apenas o conteúdo, mas a forma, o cuidado com que a vereadora tece suas palavras. Ela não apenas aprova contas, não apenas propõe projetos; ela imortaliza uma luta. E ao fazer isso, demonstra que o passado de uma cidade não pode ser encerrado em números ou relatórios, mas sim nas histórias de suas pessoas.
Que Vitória da Conquista continue a honrar essas mulheres, essas pioneiras, esses ícones de transformação. E que a história jamais apague suas conquistas. Hoje, mais do que nunca, cabe a nós preservar o legado delas e garantir que suas lutas continuem sendo lembradas, ensinadas e, acima de tudo, celebradas.
Conclusão:
A vereadora Ilza Lya V. Matos nos oferece um lembrete poderoso: honrar o passado é reconhecer a coragem daqueles que vieram antes de nós. Que este gesto de respeito e memória inspire novas gerações de líderes, especialmente mulheres, a nunca se renderem diante das adversidades. Que elas possam enfrentar de frente seus opositores que tentam com a mentira e a difamação desqualificar as lideranças femininas. Desta forma, o eleitorado é manipulado, e o verdadeiro debate político é sufocado por ruídos de falsas alegações.
Afinal, como nos ensina essa história, as verdadeiras conquistas são forjadas não apenas pela vitória nas urnas, mas pela mudança duradoura que elas representam para a sociedade.