Tenho um amigo historiador que sempre insiste na mesma tese: “As guerras, sem exceção, são motivadas por razões econômicas”. Essa visão, ainda que válida em muitos casos, é limitada ao enxergar o mundo apenas através do prisma dos interesses materiais. O dinheiro, o poder e os recursos são sim, fatores determinantes em muitos conflitos, mas reduzir todos os grandes eventos da história à economia é subestimar a complexidade da natureza humana.
Um exemplo clássico que nos prova o contrário vem da mitologia grega, onde a figura de Helena de Troia emerge como a causa de uma guerra de dez anos entre gregos e troianos. Não houve tesouro ou território que tivesse o mesmo peso que a beleza daquela mulher, descrita como a mais linda do mundo helênico. Não foi o ouro que inflamou os corações, mas sim Helena, cujas feições e encantos despertaram paixões arrebatadoras e ódios irreconciliáveis. Ela, que era conhecida como Helena de Esparta, teve sua fama imortalizada na história como Helena de Troia, uma figura que até hoje continua a fascinar poetas, artistas e até cineastas.
A guerra de Troia, ao contrário do que muitos possam pensar, não foi travada por interesses econômicos, mas por uma obsessão, um desejo por algo intangível e, ao mesmo tempo, tão poderosamente humano: a beleza. Aquela que Paris, príncipe troiano, raptou por amor, desencadeando a ira de Menelau e de todos os reis da Grécia. Durante dez anos, o cerco a Troia foi sustentado não pelo interesse em moedas ou riquezas, mas pela busca de restituir a honra ferida e a mulher que, por sua beleza, se tornara símbolo de uma disputa que se tornou lendária.
E quantas “Helenas” eu conheci ao longo da minha vida? Ah, essas mulheres cujas belezas foram capazes de parar corações, cujas presenças iluminaram salas inteiras e deixaram rastros de memórias indeléveis. O tempo pode até apagar rostos e histórias, mas o fascínio por essas figuras permanece. Como esquecer o brilho nos olhos ao vislumbrar uma beleza que transcende o físico, que cativa o espírito e nos arrebata para além das questões materiais? Ah, que saudade dessas Helenas que cruzaram meu caminho!
Já se passaram quase três milênios desde que a guerra de Troia terminou, mas a figura de Helena permanece viva, não só nos livros de história ou nas telas do cinema, mas nas mentes e nos corações de todos aqueles que ainda se permitem sonhar com o belo, com o sublime. Poetas, escritores, pintores, cineastas — todos, de uma forma ou de outra, são ainda tocados pela ideia de que a beleza, assim como o amor, tem o poder de mover montanhas e provocar cataclismos.
A meu amigo historiador, digo que nem tudo gira em torno da moeda. Sim, a economia tem seu papel, mas existem forças muito mais sutis e profundas que movem a história da humanidade. A beleza, o amor, a honra, e até mesmo o desejo incontrolável de possuir o intangível — esses são os elementos que, de tempos em tempos, moldam nossa civilização de maneiras que nem todo ouro do mundo poderia fazer.
E assim, a figura de Helena de Troia nos lembra que o ser humano é muito mais complexo do que uma equação econômica. Três mil anos depois, ainda somos aqueles que se deixam seduzir pelo encantamento do belo, e isso é parte essencial de nossa natureza. Que bom seria se todos os conflitos se resolvessem apenas com moedas e acordos financeiros! Mas, enquanto houver paixão e desejo no mundo, ainda veremos histórias como a de Helena, onde a beleza e o amor desafiam qualquer lógica materialista.
E para aqueles que acreditam que tudo se resume à moeda, eu digo: há guerras que nem todo o dinheiro do mundo pode evitar — quando o coração humano decide lutar por algo que ele considera realmente precioso.