Após quase vinte anos de governo do Partido dos Trabalhadores (PT) na Bahia, é hora de fazermos um balanço crítico sobre as promessas e a realidade enfrentada pelos trabalhadores do estado. O que se observa é uma contradição gritante entre o discurso de defesa dos direitos trabalhistas e a prática de terceirização e precarização das condições de trabalho.
O PT, que outrora criticava veementemente as políticas de Antonio Carlos Magalhães (ACM), acabou por implementar e aprofundar práticas semelhantes, senão piores, no que tange à gestão da mão de obra no estado. A terceirização, antes alvo de críticas ferrenhas do partido, tornou-se uma realidade generalizada, atingindo setores cruciais como a saúde pública.
Um exemplo alarmante desta situação é o caso dos profissionais de enfermagem da Fundação José Silveira, que atuam no Hospital Geral de Vitória da Conquista e na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Estes trabalhadores essenciais enfrentam atrasos salariais recorrentes, incluindo o não recebimento do complemento referente ao piso salarial da categoria, garantido por lei federal.
As denúncias que chegam a nossa redação são inúmeras e nos chamaram a refletir sobre sobre este tema. É particularmente chocante que um governo que se proclama defensor dos trabalhadores permita que:
- Salários sejam pagos com atrasos de até 20 dias;
- O complemento salarial, previsto na Lei do Piso de Enfermagem, esteja atrasado há meses;
- O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) não seja devidamente depositado;
- O pagamento de férias seja realizado com até 60 dias de atraso;
- Adicionais noturnos e salários família sejam negligenciados.
A situação beira o absurdo quando a Fundação José Silveira alega não receber os repasses da Secretaria Estadual de Saúde da Bahia (Sesab), enquanto a própria Sesab afirma realizar os pagamentos pontualmente. Esta discrepância levanta sérias questões sobre a transparência e a eficiência da gestão dos recursos públicos destinados à saúde.
O mais preocupante é que este não parece ser um caso isolado. As denúncias recorrentes contra a Fundação José Silveira sugerem um problema sistêmico na terceirização dos serviços de saúde no estado. O que deveria ser uma solução para melhorar a eficiência do serviço público tornou-se um mecanismo de precarização do trabalho e desrespeito aos direitos dos trabalhadores.
É irônico e profundamente decepcionante que, sob a gestão de um partido que se autodenomina “dos trabalhadores” e se posiciona à esquerda do espectro político, os profissionais da saúde estejam “passando necessidade”, como relatado por uma funcionária. Esta realidade expõe a falência moral de um projeto político que se distanciou de suas bases e de seus princípios fundamentais.
O governo do PT na Bahia deve explicações urgentes à população. Como um partido que construiu sua identidade na defesa dos direitos trabalhistas permite que tais violações ocorram de forma sistemática e prolongada? Qual é o verdadeiro compromisso do PT com os trabalhadores baianos?
É imperativo que haja uma investigação rigorosa sobre a gestão dos contratos de terceirização na saúde pública da Bahia. Os responsáveis por estas irregularidades devem ser responsabilizados, e medidas concretas precisam ser tomadas para garantir os direitos e a dignidade dos trabalhadores da saúde.
A população baiana merece um governo que não apenas fale em nome dos trabalhadores, mas que efetivamente proteja seus direitos e assegure condições dignas de trabalho. Após duas décadas no poder, o PT da Bahia mostra que a retórica de esquerda pode muito bem mascarar práticas que em nada se diferenciam – e por vezes até pioram – aquelas dos governos que tanto criticaram no passado.
É hora de uma reflexão profunda sobre o rumo da política baiana e brasileira. Os trabalhadores não podem continuar sendo peões em um jogo político onde as promessas de campanha se evaporam diante da realidade da gestão pública. A Bahia e seus trabalhadores merecem muito mais do que isso.