Após dois anos, seis meses e quatorze dias, a condenação dos ex-policiais rodoviários federais William Noia, Kleber Freitas e Paulo Rodolpho pela morte brutal de Genivaldo Santos, em Umbaúba (SE), é um marco no sistema judiciário brasileiro. As penas, que variam de 23 a 28 anos, representam uma resposta à sociedade e à família da vítima. No entanto, é impossível ignorar que esta é uma vitória incompleta diante da atrocidade que chocou o país e o mundo.
Genivaldo Santos, um homem negro de 38 anos, portador de esquizofrenia, foi submetido a um ato de crueldade inimaginável: trancado no porta-malas de uma viatura da PRF e exposto a gás lacrimogêneo até a morte. Este não foi apenas um ato de violência, mas um exemplo extremo do que acontece quando o poder se desvirtua e o preconceito se torna um motor para o abuso de autoridade.
Embora o resultado do julgamento traga alguma medida de responsabilização, a desclassificação do crime de homicídio doloso para tortura seguida de morte e homicídio culposo em dois casos levanta questões inquietantes. Como pode um ato tão deliberado, envolvendo ações coordenadas e a utilização de instrumentos de tortura, ser tratado como algo sem intenção de matar? Essa decisão subestima a gravidade do que ocorreu e envia uma mensagem preocupante sobre como crimes praticados por agentes do Estado são tratados.
A repercussão internacional deste caso reflete não apenas a gravidade do ocorrido, mas também a luta global contra a violência policial e o racismo estrutural. Casos como o de Genivaldo nos conectam a outros episódios trágicos, como a morte de George Floyd nos Estados Unidos, e reforçam a necessidade de reformas profundas nas instituições de segurança pública.
A condenação dos ex-PRFs é um passo importante, mas não suficiente. Para que tragédias como esta não se repitam, é necessário um compromisso real com a reestruturação das forças de segurança, incluindo treinamento adequado, controle rigoroso de conduta e, acima de tudo, uma mudança cultural que elimine o racismo e o desprezo pela vida humana como fatores subjacentes.
O sentimento expresso pela irmã de Genivaldo, Laura de Jesus Santos, ao afirmar que a condenação não traz felicidade à família, é emblemático. Afinal, nenhuma sentença judicial pode devolver uma vida perdida ou apagar o sofrimento causado. Mas a justiça, mesmo que tardia, é um lembrete de que a impunidade não pode prevalecer.
Que a memória de Genivaldo Santos seja um chamado à ação. Que sua morte brutal inspire não apenas indignação, mas mudanças concretas em busca de uma sociedade mais justa, onde todos, independentemente de sua cor, classe ou condição de saúde, tenham sua dignidade respeitada e sua vida protegida.