A política é um campo complexo, repleto de nuances e reviravoltas que desafiam as expectativas. O presidente Lula, conhecido por sua habilidade em lidar com situações políticas intricadas, surpreende ao declarar, cinco dias antes de assinar um decreto autorizando a atuação das Forças Armadas em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que enquanto ele for presidente, não haverá GLO.
Esse aparente paradoxo revela uma dinâmica complexa entre o governo e as Forças Armadas. A mudança de postura de Lula em relação à GLO parece ser resultado de uma articulação entre os comandantes militares e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Essa coordenação visa reconstruir a relação de confiança entre os militares e o presidente, abalada após eventos como os ataques às sedes dos Poderes em janeiro.
A justificativa para a GLO no Rio de Janeiro, dada por Lula, aponta para uma situação muito grave envolvendo o crime organizado. No entanto, o contexto sugere que essa medida vai além da necessidade operacional. Ela reflete uma estratégia mais ampla do governo Lula 3 para equilibrar as relações civis-militares, focando na conciliação.
A abordagem conciliatória de Lula desafia até mesmo setores de seu próprio partido, como a ala majoritária do PT, que tentou aproveitar a crise militar para aprovar medidas no Congresso que limitariam as atribuições dos militares. No entanto, o governo Lula conseguiu enterrar essas propostas, optando por uma PEC pactuada com os chefes militares.
A análise do historiador e sociólogo Lucas Pedretti destaca que essa estratégia de conciliação pode garantir a governabilidade de Lula, mas também deixa questões em aberto. A dependência contínua dos militares como um poder moderador pode se tornar um problema em crises futuras.
O embate entre o governo e as Forças Armadas, especialmente a demissão do comandante do Exército após os eventos de janeiro, ilustra a complexidade dessa relação. Contudo, em momentos subsequentes, Lula e Múcio arbitram em favor dos militares, evidenciando a busca por um equilíbrio delicado.
O presidente Lula, ao adotar uma postura conciliatória, busca evitar confrontos diretos com as Forças Armadas. Essa estratégia, embora possa garantir estabilidade a curto prazo, levanta preocupações sobre o papel contínuo dos militares como moderadores da República.
O relacionamento entre o governo e as Forças Armadas no “Lula 3” difere significativamente das gestões anteriores do petista, conforme apontado pelo embaixador Rubens Barbosa. A presença de uma desconfiança total inicial evoluiu para uma relação mais tranquila, graças à atuação de José Múcio.
O professor Lucas Pereira Rezende destaca a continuidade do princípio de acomodação dos militares nos governos petistas, mas ressalta diferenças fundamentais. O papel do ministro da Defesa, antes de representar os interesses políticos, agora parece ser mais receptivo às demandas militares.
Em última análise, a abordagem conciliatória de Lula pode ser um elemento crucial para a estabilidade política, mas também traz consigo desafios inerentes. A relação entre governo e militares é uma dança delicada, e o equilíbrio alcançado pode moldar o futuro político do Brasil.
**Padre Carlos**