Por: Padre Carlos
No coração do Brasil, onde as desigualdades ainda se manifestam de maneira cruel, surgem gestos que resgatam a esperança e a dignidade das pessoas. É o caso do anúncio feito pelo vereador Ricardo Gordo (PSB) em sua primeira fala no plenário da Câmara Municipal de Vitória da Conquista. Entre promessas de cursos profissionalizantes, obras públicas e melhorias para os bairros mais carentes, um destaque chamou a atenção: o retorno do Carnaval da Zona Oeste. Não é apenas uma festa; é um ato político, cultural e social que merece ser celebrado e analisado.
Ricardo Gordo, um vendedor de ciriguela que hoje ocupa uma cadeira na terceira maior cidade da Bahia, representa algo maior do que sua trajetória pessoal. Ele simboliza a força daqueles que vêm das margens da sociedade e conseguem abrir espaço em um sistema tradicionalmente excludente. Sua fala inicial como vereador foi carregada de emoção e gratidão, mas também de compromissos concretos com a população que o elegeu. E entre esses compromissos está o Carnaval da Zona Oeste, um evento que transcende o entretenimento e toca nas questões mais profundas de pertencimento, visibilidade e protagonismo das periferias.
Um Carnaval com significado
O Carnaval brasileiro é conhecido mundialmente por sua grandiosidade, diversidade e capacidade de unir pessoas. No entanto, quando pensamos nessa festa, muitas vezes nossa mente vai direto aos grandes centros urbanos e aos desfiles televisivos. Pouco se fala dos carnavais de rua, das micaretas organizadas pelos próprios moradores ou das celebrações que acontecem nos bairros mais distantes dos holofotes. Esses eventos, embora menos badalados, são igualmente importantes porque refletem a alma e a cultura local.
O Carnaval da Zona Oeste, anunciado por Ricardo Gordo, não será apenas uma festa com música e desfile pelas ruas do Bairro Patagônia. Será um momento de reafirmação da identidade daquela comunidade. Para os moradores da região, trata-se de uma oportunidade de mostrar ao resto da cidade que eles existem, que têm voz e que merecem ser incluídos nos planos de desenvolvimento urbano e cultural. É também uma forma de gerar renda para pequenos comerciantes locais, que veem nessas celebrações uma chance de movimentar suas economias.
Política e cultura caminham juntas
A decisão de revitalizar o Carnaval da Zona Oeste demonstra que o vereador entende o papel estratégico da cultura na construção de políticas públicas. A cultura não é apenas um adorno ou um luxo acessório; ela é uma ferramenta poderosa de transformação social. Quando incentivamos manifestações culturais locais, estamos fortalecendo laços comunitários, criando espaços de diálogo e promovendo o orgulho de pertencer a determinado lugar.
Além disso, ao priorizar uma festa popular em um bairro historicamente marginalizado, Ricardo Gordo está enviando uma mensagem clara: a política deve servir a todos, especialmente àqueles que estão nas bordas do mapa oficial. Esse tipo de iniciativa contraria a lógica elitista que ainda domina boa parte das decisões governamentais no Brasil. Muitas vezes, os investimentos públicos são concentrados nos centros urbanos, enquanto as periferias ficam relegadas ao abandono. O Carnaval da Zona Oeste pode ser visto como um primeiro passo rumo à desconstrução dessa dinâmica injusta.
Mais do que música e folia
Claro, ninguém pode negar que o Carnaval é, antes de tudo, uma festa. E quem disse que as periferias não têm direito à alegria? Ainda que enfrentem desafios diários relacionados à falta de infraestrutura, violência e exclusão social, os moradores dessas áreas continuam sonhando, lutando e buscando momentos de felicidade. O Carnaval da Zona Oeste será, portanto, uma pausa necessária no cotidiano difícil de muitas famílias. Será um momento para dançar, cantar e esquecer – mesmo que por alguns dias – os problemas que assolam suas vidas.
Mas, além disso, ele será também uma vitrine para artistas locais, grupos musicais e coletivos culturais que raramente têm espaço nos grandes palcos. Ao colocar essas vozes em evidência, o evento contribuirá para a valorização da arte genuinamente produzida na região. Isso é fundamental para combater a invisibilidade cultural que tantas vezes silencia talentos incríveis simplesmente porque eles não estão inseridos nos circuitos “oficiais”.
Um mandato que começa com novidades
Desde o início de seu mandato, Ricardo Gordo tem mostrado que pretende fazer diferente. Em pouco mais de um mês, já apresentou projetos concretos, como o curso profissionalizante e a revitalização do Campo da Ester, no Bairro Patagônia. Essas ações, somadas ao anúncio do Carnaval da Zona Oeste, indicam que o vereador está comprometido em atender às demandas reais da população. Ele parece entender que a política não pode ser feita apenas de discursos bonitos; ela precisa gerar resultados palpáveis.
É importante destacar, no entanto, que a expectativa agora é alta. Os moradores da Zona Oeste e de outros bairros periféricos estarão de olho para ver se todas essas promessas serão cumpridas. Afinal, já viram muitos políticos chegarem com boas intenções e depois sumirem sem deixar marcas positivas. Para manter a confiança conquistada nas urnas, Ricardo Gordo precisará garantir que suas iniciativas saiam do papel e impactem verdadeiramente a vida das pessoas.
Conclusão
O Carnaval da Zona Oeste é muito mais do que uma festa. É um símbolo de resistência, inclusão e reconhecimento das periferias. É uma oportunidade para que os moradores da região mostrem ao mundo quem são, o que sentem e o que desejam para o futuro. E, acima de tudo, é uma prova de que a política, quando bem conduzida, pode ser uma força transformadora capaz de devolver dignidade e esperança a quem mais precisa.
Que esse evento seja apenas o começo de um ciclo virtuoso, onde cultura, educação e desenvolvimento andem lado a lado. Que outros políticos sigam o exemplo de Ricardo Gordo e percebam que as periferias não são um problema a ser resolvido, mas uma solução a ser explorada. Afinal, é nas bordas que muitas vezes encontramos as melhores ideias e as histórias mais inspiradoras.