No turbulento cenário político baiano, testemunhamos mais uma vez a veracidade do ditado atribuído ao velho político mineiro: “Política é que nem nuvem no céu, uma hora está desta forma e mais tarde pode estar completamente diferente”. Esta máxima se materializa de maneira exemplar no atual panorama eleitoral da Bahia, onde o que parecia ser uma vitória certa para Gedel Vieira Lima e seus aliados transmutou-se em um cenário de incertezas e reviravoltas.
O MDB, partido que outrora se gabava de sua força e influência no estado, agora se vê diante de um horizonte nebuloso. Em Salvador, a decisão do PT de não lançar candidato próprio, optando por apoiar o vice-governador Geraldo Junior do MDB, revelou-se uma estratégia questionável. As pesquisas apontam para um cenário desfavorável, agravado pela falta de engajamento de parte significativa da liderança petista. A ausência de entusiasmo entre militantes e eleitores tradicionais do PT soa como um prenúncio de tempos difíceis para a aliança.
Em Vitória da Conquista, outro bastião importante, a aposta na vereadora Lúcia Rocha demonstra a fragilidade da estrutura partidária do MDB. Inicialmente vista como uma candidata competitiva, Rocha vê sua campanha perder fôlego à medida que o eleitorado a associa ao governismo. O fenômeno da migração de votos anti-petistas para a atual prefeita Sheila ilustra perfeitamente a volatilidade do eleitorado e a complexidade do jogo político local.
A família Vieira Lima, que há tempos se acostumou a ditar os rumos da política baiana, agora se vê diante de um pesadelo eleitoral. Os sonhos de vitória, antes tão sólidos, desmoronam como castelos de areia diante da maré crescente de descontentamento e realinhamento político.
Este cenário nos convida a refletir sobre a natureza efêmera do poder político e a importância da conexão genuína com o eleitorado. A política não se faz apenas de alianças e estratégias de gabinete; ela se nutre, sobretudo, da capacidade de compreender e responder aos anseios da população.
O que vemos na Bahia é um reflexo de um fenômeno mais amplo que perpassa a política brasileira: a crescente desconfiança do eleitorado em relação às estruturas tradicionais de poder. O eleitor, cada vez mais informado e crítico, não se contenta mais em seguir cegamente as orientações de caciques políticos ou de partidos que se julgam donos de currais eleitorais.
Para os atores políticos baianos, e brasileiros em geral, fica a lição de que a política do século XXI exige mais do que acordos de bastidores e jogadas de marketing. É preciso construir pontes reais com a sociedade, apresentar propostas concretas e, acima de tudo, demonstrar compromisso com as demandas populares.
As eleições na Bahia servem como um microcosmo das transformações em curso na política nacional. Elas nos mostram que não há mais lugar para a política do “toma lá, dá cá”, nem para candidaturas que se sustentam apenas em nomes ou tradições familiares.
O eleitorado baiano, assim como o brasileiro, clama por uma nova forma de fazer política. Uma política que seja transparente, participativa e verdadeiramente representativa. Os candidatos e partidos que compreenderem essa mudança de paradigma serão aqueles que conseguirão construir não castelos de areia, mas estruturas sólidas de governança e representação popular.
Que as lições aprendidas nas areias da política baiana sirvam de alerta e inspiração para uma renovação profunda em nossa cultura política. Só assim poderemos aspirar a um futuro onde as nuvens da incerteza deem lugar a um céu claro de esperança e progresso para todos os cidadãos.