Política e Resenha

O Conclave que moldou a história da Igreja

(Padre Carlos)

Senhoras e senhores, preparem-se para embarcar comigo numa viagem dramática, cheia de fé, intrigas políticas, decisões sagradas e… telhados arrancados! Sim, esta é a história do conclave mais famoso e decisivo da história da Igreja Católica — o conclave de 1268 que deu origem a uma das mais misteriosas e sagradas tradições do cristianismo.

O ano é 1268. O Papa Clemente IV falece, deixando um vazio no trono de Pedro. É chegado o momento solene em que o Espírito Santo deveria inspirar os cardeais a escolherem o novo Vigário de Cristo. Mas, ah, meus amigos, nem só de santidade vive a história! A disputa pelo poder começou antes mesmo do incenso subir ao céu. O rei Carlos de Anjou de um lado, a nobreza romana de outro. Um cabo de guerra entre os interesses divinos e os mundanos.

Os cardeais se reúnem na encantadora comuna italiana de Viterbo. Mas o que era para ser uma rápida e piedosa eleição transformou-se numa verdadeira novela medieval. Dois anos! Sim, dois anos inteiros de impasses, conspirações e manobras políticas. O povo de Viterbo, indignado com tanta demora, tomou uma decisão inédita — trancaram os cardeais no palácio episcopal!

Sim, trancados! De onde vem a palavra conclave? Cum clave — com chave! A chave que o povo girou na porta do palácio, impedindo a saída dos príncipes da Igreja até que um novo papa fosse eleito. E como se isso não bastasse, o governador, aconselhado por ninguém menos que São Boaventura, reduziu a comida, e até mandaram arrancar o teto do prédio! Imaginem os cardeais rezando sob chuva e vento, como pombos sem pombal.

Mas a pressão funcionou! Em 1271, finalmente foi eleito o Papa Gregório X. Este conclave, com todos os seus extremos, deu origem à tradição que perdura até hoje. Desde então, quando um papa morre ou renuncia, a Igreja entra em um tempo especial: sede vacante. A Sé está vaga. O camerlengo assume temporariamente a administração e prepara tudo para o ritual mais sagrado do catolicismo: o conclave.

Durante nove dias — os Novendiales — missas são celebradas e reflexões profundas acontecem. Os cardeais discutem a situação da Igreja, os desafios do mundo, e as virtudes necessárias ao novo sucessor de Pedro.

Então, chega o dia do conclave. Uma procissão solene, a Capela Sistina vestida com o silêncio sagrado, e sob os olhos eternos do Juízo Final pintado por Michelangelo, inicia-se a eleição. Quando a voz poderosa do mestre de cerimônias ecoa: Extra Omnes! — “Todos para fora!”, o mundo se cala. A Igreja se fecha sobre si mesma. Nada de celulares, nada de câmeras, nada de influências externas. É entre os cardeais e Deus.

Cada voto é feito com oração e consciência. Um a um, os cardeais depositam suas cédulas na urna. Eligo in Summum Pontificem — Elejo como Sumo Pontífice. Os escrutinadores contam os votos. Se ninguém atinge dois terços… fumaça preta. Mas quando o escolhido de Deus é revelado — ah! — a fumaça branca sobe, os sinos tocam e a multidão na Praça de São Pedro explode em júbilo.

Habemus Papam! Temos Papa! O novo bispo de Roma aparece na sacada e concede sua primeira bênção Urbi et Orbi. E assim, mais uma vez, a promessa de Cristo se renova: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja.”

Desde aquele conclave épico em Viterbo, mais de 80 conclaves aconteceram. Alguns rápidos, outros tensos. Mas todos, absolutamente todos, com um só objetivo: conduzir a barca de Pedro pelos mares do tempo até os confins da Terra.