No ápice da polarização política que marcou o Brasil nos últimos anos, o ex-vice-presidente Hamilton Mourão, agora senador pelo partido Republicanos-RS, rompe o silêncio e desvela um panorama contundente sobre os bastidores do governo Bolsonaro. Em uma entrevista franca concedida ao UOL News, Mourão não poupa palavras ao descrever o final melancólico da gestão bolsonarista e a necessidade premente de admitir a derrota nas urnas.
Com a perspicácia de quem esteve próximo do centro de poder, Mourão destaca que, apesar dos pontos positivos, o governo Bolsonaro encontrou um desfecho desolador. “Tínhamos que ter reconhecido a derrota. Perdemos por pouco, mas perdemos”, afirma o ex-vice-presidente, sublinhando a importância de honrar os preceitos democráticos e projetar uma reconstrução para o futuro.
Entretanto, o reconhecimento da derrota não é o único tema em pauta nas palavras de Mourão. Ele aborda, com clareza e firmeza, as acusações de tentativas golpistas que pairam sobre o governo Bolsonaro. Em sua visão, golpe de Estado é um conceito que transcende a redação de um documento. Ele aponta para os eventos históricos, como o episódio protagonizado por Hugo Chávez na Venezuela em 1992, como paradigmas de verdadeiras tentativas de golpe.
Ao destacar a figura do general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, Mourão ressalta sua capacidade de manter a coesão em meio aos turbulentos momentos políticos. Freire Gomes emerge como uma figura que buscou preservar a integridade institucional das Forças Armadas em meio às convulsões políticas.
Contudo, o senador não deixa de apontar as falhas e fragilidades presentes no contexto político do governo Bolsonaro. Ele critica a participação do tenente-coronel Mauro Cid, apontando-o como a parte mais fraca no processo das tentativas golpistas. Mourão expressa seu desacordo com as funções políticas assumidas por Cid, sublinhando que sua carreira acabou prematuramente devido a seu envolvimento em atividades inapropriadas para um oficial da ativa.
A entrevista de Mourão lança luz sobre as tensões internas que marcaram os últimos anos do governo Bolsonaro. A falta de diálogo e a ausência de reconhecimento da derrota eleitoral emergem como pontos críticos na análise do ex-vice-presidente.
Em um país marcado pela instabilidade política e pela polarização exacerbada, as revelações de Mourão servem como um lembrete contundente da importância da responsabilidade democrática e do respeito às instituições. Resta agora ao Brasil absorver as lições desse capítulo tumultuado de sua história e trilhar um caminho que reafirme os valores fundamentais da democracia.
Por Maria Clara, articulista do política e resenha