Política e Resenha

O Desafio da Consciência Histórica: Entre o Passado e o Presente Incerto

 

Vivemos em uma época em que a incerteza paira sobre o destino da humanidade, e a única bússola que temos é a consciência da imprevisibilidade da História. No entanto, essa consciência parece ser cada vez mais escassa em meio às tendências atuais que delineiam um cenário sombrio para o futuro.

A insegurança que permeia os líderes mundiais está conduzindo a atitudes extremas, onde a radicalização dos conflitos e a recusa de compromissos tornam-se cada vez mais frequentes. Este fenômeno é especialmente evidente em muitas nações, incluindo a nossa, onde a direita, desorientada e influenciada pela ascensão da extrema direita, está remodelando o cenário político. O centro, por sua vez, está gradualmente se transformando em centro-esquerda, enquanto o voto de protesto, que outrora pertencia à esquerda, agora é capturado pela crescente influência da extrema-direita.

A amnésia histórica é uma ameaça crescente, à medida que a memória da barbárie de 1945 se desvanece nas novas gerações europeias. Os horrores das ditaduras na América Latina já não conseguem chocar a juventude e os movimentos sociais. O estudo da História, que deveria servir como uma bússola moral, foi relegado a segundo plano nos programas educacionais. Como alertava Edmund Burke, “um povo que não conhece a sua História está condenado a repeti-la”. A falta de memória nos torna presas fáceis para aventureiros políticos.

O problema não é exclusivo de nossa nação; muitos países, especialmente nas sociedades mais avançadas, enfrentam crises econômicas e políticas semelhantes. Na Alemanha, um partido de extrema-direita cresce, agora direcionando sua ira contra os imigrantes. Na Itália, um partido neofascista governa, focando na destruição dos avanços civilizacionais conquistados nas áreas da igualdade de gênero e do respeito às orientações sexuais diversas.

Seria crucial que reconhecêssemos os progressos reais dos últimos quarenta anos contra a estagnação social e a fome. Moderação seria bem-vinda em uma direita que, em busca de radicalização neoliberal, se afasta de sua tradição histórica de liberalismo social e democracia cristã.

Os socialistas democráticos defendem o Estado social e propõem estratégias econômicas inovadoras. Enquanto a direita liberal domina os meios de comunicação, permanecem firmes na defesa da liberdade e do progresso, apesar de serem rotulados erroneamente como estagnação.

Não se trata de fazer campanha eleitoral, mas de erguer a voz em um momento crucial. Se um judeu polonês encontrou vitalidade na leitura de Proust em Auschwitz, por que não podemos, em uma situação menos dramática, falar de flores? O desafio é abraçar a consciência histórica, enfrentar as incertezas do presente e moldar um futuro onde a memória e a razão guiem nossas escolhas.