A recente declaração do desembargador Marcelo Malucelli ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de que desconhecia a sociedade entre seu filho, João Malucelli, e o ex-juiz da Lava Jato, agora senador, Sergio Moro, beira o cômico, se não fosse trágica para a credibilidade do Judiciário brasileiro. O depoimento divulgado pelo site Consultor Jurídico revelou um argumento frágil e preocupante, que ilustra bem os riscos do corporativismo no sistema judicial.
Marcelo Malucelli afirmou à Corregedoria Nacional de Justiça que foi “pego de surpresa” ao descobrir que seu filho fazia parte do escritório de advocacia Wolff & Moro Sociedade de Advogados, junto com Moro, sua esposa Rosângela Moro e a filha mais velha do ex-juiz. A surpresa relatada, com toques de incredulidade, não convence nem o mais ingênuo dos observadores. É inconcebível que um magistrado de sua posição, responsável pela análise da Lava Jato em segunda instância, ignorasse a relação profissional e pessoal de seu próprio filho com figuras tão emblemáticas da operação.
A defesa de Malucelli de que essa sociedade “jamais interferiria” em seus julgamentos é igualmente problemática. A independência e imparcialidade são pilares da justiça, e qualquer sombra de dúvida sobre a integridade de um magistrado abala a confiança pública no sistema. O fato de seu filho não apenas ser sócio, mas também namorado da filha mais velha de Moro, torna ainda mais difícil aceitar a alegação de ignorância.
A revelação dessas relações veio à tona por meio de ações movidas contra o desembargador pelo advogado Rodrigo Tacla Duran e pelo senador Renan Calheiros. Segundo as acusações, Malucelli teria atuado para restabelecer uma ordem de prisão contra Tacla Duran, desrespeitando uma determinação do Supremo Tribunal Federal que restringia o caso ao tribunal superior. Se comprovado, tal ato não seria apenas um conflito de interesses, mas uma clara violação dos princípios éticos e legais.
Diante de tais fatos, é imperativo que o CNJ tome medidas firmes e exemplares. O Conselho deve investigar a fundo e, se necessário, punir o desembargador para garantir que a justiça não seja uma questão de interesses pessoais e corporativismo. A credibilidade do Judiciário está em jogo, e a sociedade não pode se dar ao luxo de ver a confiança em suas instituições corroída por escândalos como este.
A resposta do desembargador Malucelli à Corregedoria Nacional de Justiça é uma tentativa desesperada de minimizar o impacto de uma situação que põe em xeque sua imparcialidade e ética profissional. Não podemos aceitar justificativas que subestimam nossa inteligência e ferem a transparência que tanto almejamos no Judiciário. O CNJ, como guardião da ética judicial, deve agir com rigor para restaurar a confiança da população nas instituições que deveriam ser exemplo de justiça e retidão.