Política e Resenha

O Espírito Sopra Onde Quer: A Surpresa de Leão XIV

 

 

Por Padre Carlos

A eleição de um novo Papa é sempre um momento de grande expectativa, não apenas para os católicos, mas para o mundo inteiro. Após a morte de Francisco, cujo pontificado marcou indelévelmente a história da Igreja e da humanidade, as especulações sobre seu sucessor dominaram as manchetes. Listas de “papáveis” circularam freneticamente, com analistas, jornalistas e fiéis tentando prever quem seria o próximo a ocupar a Cátedra de Pedro. No entanto, como tantas vezes na história da Igreja, o Espírito Santo mostrou que não se deixa prender por articulações humanas, conchavos políticos ou previsões midiáticas. Ele sopra onde quer, de forma imprevisível, e assim foi com a eleição do Cardeal Robert Francis Prevost, agora Papa Leão XIV.

Na manhã de 8 de maio, a fumaça branca subiu da chaminé da Capela Sistina, anunciando ao mundo que os cardeais, reunidos em conclave, haviam escolhido o novo Papa. A multidão reunida na Praça de São Pedro aguardava com ansiedade, mas o nome anunciado – Leão XIV – pegou muitos de surpresa. Diferentemente dos esquemas eleitorais que caracterizam a política secular, onde alianças, acordos e estratégias dominam, a escolha de um Papa não segue os padrões humanos de poder. Ela é, acima de tudo, um mistério de fé, guiado por uma força que transcende cálculos terrenos.

Quem é Leão XIV? Até recentemente, o Cardeal Prevost era um nome pouco conhecido fora dos círculos eclesiásticos. Nascido em Chicago, nos Estados Unidos, ele é, em muitos aspectos, um filho da América Latina. Como missionário agostiniano, trabalhou no Peru, onde também foi bispo de Chiclayo, adotando inclusive a cidadania peruana. Sua trajetória reflete uma vida dedicada à simplicidade, ao serviço e à missão, valores que ecoam o pontificado de seu predecessor, Francisco. Nomeado por este último em 2023 como Prefeito do Dicastério para os Bispos, Prevost já demonstrava uma sintonia profunda com os ideais de uma Igreja em saída, próxima dos pobres e comprometida com a paz e o cuidado com a criação.

A escolha de Leão XIV é um lembrete de que o Espírito não se submete às listas dos “favoritos” ou às dinâmicas de poder que regem as eleições seculares. Enquanto o mundo especulava sobre nomes mais midiáticos, o conclave, guiado pela oração e pela fé, trouxe à tona um pastor cuja trajetória é marcada pela humildade e pelo serviço discreto. Não é por acaso que ele escolheu o nome Leão, evocando Leão XIII, um Papa que, no final do século XIX, deixou um legado duradouro com sua contribuição à Doutrina Social da Igreja, abordando questões de justiça e dignidade em um mundo em transformação.

Leão XIV não é, nem deve ser, uma continuação direta de Francisco, embora partilhe de seus valores. Cada Papa traz sua própria contribuição, seu carisma único, para a missão de guiar a Igreja. Prevost, com seu nome que carrega “Francis” e sua vivência alinhada aos ensinamentos de Francisco, parece destinado a dar continuidade a uma Igreja que dialoga, acolhe e se posiciona ao lado dos mais vulneráveis. Sua proximidade com o Brasil, onde esteve diversas vezes como agostiniano, é um sinal de esperança para os fiéis brasileiros. Sua planejada visita a Salvador, interrompida pela morte de Francisco, agora pode se concretizar como Papa, trazendo consigo a alegria e a paz que caracterizam seu ministério.

O mundo, acostumado a enxergar a liderança sob a ótica de coalizões e estratégias, muitas vezes se surpreende com a lógica do Espírito. A eleição de Leão XIV é um convite à reflexão: a Igreja não é uma empresa, nem um partido político. Sua missão não é moldada por acordos ou articulações, mas pela confiança em uma presença divina que guia e surpreende. Que Leão XIV, com sua simplicidade e compromisso com os valores do Evangelho, possa inspirar a Igreja e o mundo a ouvir o sopro do Espírito, que não se deixa prever, mas sempre renova.