A recente exoneração de Genilva Feitosa, irmã do ex-prefeito e histórico militante do PT, Geraldo Simões, da coordenação do SAC de Itabuna, é mais um capítulo na crise que se desenha dentro do Partido dos Trabalhadores na Bahia. A decisão, oficializada no Diário Oficial do Estado, não é um simples ato administrativo; ela simboliza o fim de uma relação política que há muito vinha se desgastando.
Geraldo Simões, uma figura de longa data no PT baiano, foi um dos que ajudaram a moldar o projeto do partido no estado, desde os primeiros anos até os dias de hoje. No entanto, seu rompimento com o governador Jerônimo Rodrigues e o afastamento da direção do PT em Itabuna revela mais do que uma divergência política pontual: ele expõe as profundas fissuras que correm dentro do partido, especialmente quando os interesses locais entram em choque com as alianças estratégicas estaduais.
A raiz do problema? A decisão do PT de apoiar a reeleição do atual prefeito de Itabuna, Augusto Castro, o que Geraldo Simões considerou um golpe para seu próprio futuro político. Para um militante histórico que construiu sua carreira política dentro do partido, aceitar essa aliança significaria, nas palavras de Simões, “assinar seu fim político”. A decisão do governador de fortalecer politicamente um adversário direto de Simões não foi recebida de maneira amistosa. O que se vê é um quadro em que a lealdade partidária esbarra em uma dura realidade: a sobrevivência política no nível local nem sempre anda de mãos dadas com as diretrizes do partido no âmbito estadual.
É uma situação que levanta um ponto importante sobre a política partidária no Brasil: até que ponto a lealdade a um projeto ou a uma sigla deve prevalecer sobre os interesses e sobrevivência pessoal e política? Simões optou por romper com o grupo do PT na Bahia e, em um movimento surpreendente, decidiu apoiar o candidato de ACM Neto (União Brasil) no município. Uma escolha que, para muitos, representa uma guinada dramática, mas que para ele parece ser a única saída diante do cenário desenhado.
A exoneração de Genilva Feitosa do comando do SAC em Itabuna é, sem dúvida, um recado claro do governador Jerônimo Rodrigues. O PT baiano se encontra em uma posição delicada, onde alianças pragmáticas parecem prevalecer sobre a gratidão pelos veteranos que ajudaram a erguer o partido. No entanto, o que está em jogo aqui é algo maior do que cargos e influências: é a percepção de que o PT, ao tentar se equilibrar nas alianças políticas para garantir o poder, pode estar alienando figuras históricas e grupos importantes que foram responsáveis por sua ascensão.
Geraldo Simões, ao ver sua posição política enfraquecida pelo próprio partido que ajudou a construir, representa uma crise que muitos partidos enfrentam ao longo do tempo: o desafio de manter a coesão interna enquanto se busca ampliar a base de poder. O rompimento com Simões pode não ser o último dentro do PT, especialmente em um estado onde as relações políticas são complexas e profundamente enraizadas no tecido local.
A pergunta que fica é: o quanto o PT está disposto a sacrificar em nome de suas alianças e o quanto de sua base histórica será deixada para trás no processo? Enquanto isso, Itabuna se torna palco de mais um episódio em que a política local desestabiliza as bases de um dos partidos mais poderosos do Brasil. Simões, ao se aliar ao grupo de ACM Neto, entra em um caminho arriscado, mas que, para ele, parece ser a única via para manter-se relevante no cenário político.
O que podemos tirar desse episódio é uma lição sobre os perigos da política pragmática. Lealdades são construídas ao longo de décadas, mas podem ser desfeitas com uma única decisão. E, neste caso, o impacto dessa decisão ainda está longe de ser totalmente compreendido. O afastamento de Simões do comando do PT em Itabuna, assim como a exoneração de sua irmã, são símbolos de uma ruptura que, no fim das contas, pode custar caro para ambos os lados envolvidos.