Política e Resenha

O Fisiologismo e a Política do Centrão: Uma Piscada de Olho que Move Montanhas

 

 

 

 

 

Fazer política no Brasil, especialmente para partidos de centro e centro-direita, é como atravessar um campo minado onde o mapa das alianças muda constantemente. No coração dessa dinâmica está o fisiologismo, que permeia os bastidores do poder e molda as relações entre governo e partidos. Os partidos do chamado “Centrão” têm um modus operandi conhecido: vivem à sombra do poder, alimentando-se dos benefícios que ele proporciona. E é exatamente nesse jogo que o PT da Bahia, liderado pelo governador Jerônimo Rodrigues, parece estar investindo seus esforços.

A recente declaração do deputado federal Cláudio Cajado (PP) sobre a possibilidade de aproximação com Jerônimo exemplifica bem esse cenário. Com sua metáfora de namoro, noivado e casamento, Cajado revela o que é óbvio, mas muitas vezes velado: na política, nada acontece sem acenos e promessas de vantagens. “Houve uma piscada de olho e uma risadinha”, disse ele, em tom de brincadeira, mas carregando uma mensagem séria sobre as intenções do governador petista de ampliar sua base. O flerte não é gratuito, e o PP, que já tem deputados estaduais alinhados ao governo, está claramente na mira do fisiologismo baiano.

A Sobrevivência dos Partidos de Direita e Centro-Direita

Historicamente, partidos de centro-direita e direita no Brasil têm funcionado como satélites do poder. Esses grupos raramente se consolidam como forças ideológicas autônomas, preferindo atuar como correias de transmissão para quem está no comando. A lógica é simples: sem ministérios, secretarias ou cargos estratégicos, não há recursos, influência ou sustentação. Por isso, esses partidos são especialistas em alianças de ocasião, movendo-se conforme os ventos políticos e as oportunidades de acesso ao orçamento público.

Essa dependência estrutural do poder explica por que o PT, mesmo com uma trajetória ideológica distinta, busca cooptar essas legendas. O pragmatismo do petismo na Bahia é evidente. Jerônimo Rodrigues entende que ampliar sua base política é essencial para garantir estabilidade e força nas eleições de 2026. No entanto, há limites para essa cooptação. ACM Neto, por exemplo, líder da oposição no estado, dificilmente cederia ao convite fisiológico, pois sua estratégia está centrada em consolidar uma alternativa ao PT, não em diluir-se em sua órbita.

Jerônimo, o Articulador do “Amor Condicional”

Jerônimo Rodrigues tem se mostrado um político habilidoso, sabendo equilibrar discurso e gestos. Tratar bem deputados da oposição, como Cajado, não é apenas cortesia; é estratégia. É a forma de abrir portas e semear dúvidas em partidos que, como o PP, oscilam entre independência e adesão. A piscada de olho e a risadinha de que Cajado falou, embora aparentemente banais, são símbolos desse jogo. São os pequenos gestos que pavimentam as grandes mudanças nas composições políticas.

O governador, no entanto, enfrenta um desafio complexo: como conquistar aliados sem desagradar sua base histórica, que inclui movimentos sociais e lideranças de esquerda? O fisiologismo, embora funcional, carrega um custo político. Ele pode alienar setores que esperam do PT uma postura mais coerente com seus princípios e uma gestão menos dependente de alianças conservadoras.

O Preço do Fisiologismo

O fisiologismo, apesar de eficaz no curto prazo, cobra um preço alto. Ele alimenta a percepção de que partidos e políticos estão mais preocupados com cargos do que com projetos. No longo prazo, isso enfraquece a confiança da população na política e mina a legitimidade das instituições democráticas. Partidos como o PP, que condicionam sua adesão às “condições ofertadas ao partido”, reforçam essa lógica transacional, onde o interesse público frequentemente fica em segundo plano.

Cláudio Cajado, ao admitir que sua posição depende das ofertas feitas ao PP, escancara essa realidade. Sua “independência” é relativa, condicionada às oportunidades que surgirem. Não é uma crítica isolada a ele, mas um retrato de como grande parte da política brasileira funciona.

A Política como Negociação Permanente

O flerte entre o PP e o PT na Bahia é mais um capítulo da velha política brasileira, onde a ideologia cede espaço ao pragmatismo. Jerônimo Rodrigues, com sua piscadela, joga o jogo como qualquer outro governador que precisa ampliar sua base de sustentação. No entanto, é preciso questionar até que ponto essa lógica pode ser sustentada sem comprometer a essência dos partidos e o interesse público.

A política, afinal, não deveria ser apenas sobre piscar olhos e arrancar risadinhas. Se quisermos um Brasil menos dependente do fisiologismo, precisaremos de líderes e partidos dispostos a romper com essa lógica e construir algo mais sólido e transformador. Até lá, a piscadela continuará sendo a moeda de troca que move montanhas no Centrão.

Padre Carlos