Política e Resenha

O Golpe de 64 e a Coragem Estudantil: Ecos de Resistência na UFBA

 

 

 

 

A história do Brasil é marcada por episódios que testaram a coragem e a determinação de seus cidadãos. Entre esses momentos, o golpe militar de 1964 se destaca não apenas pela brutalidade do regime que se instaurou, mas também pela resistência heroica que emergiu, especialmente entre os jovens. Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), um grupo de estudantes ousou sonhar com a liberdade em meio ao autoritarismo, tornando-se um símbolo de luta e esperança.

O Contexto da Resistência

Após o golpe, enquanto muitas instituições acadêmicas se curvaram ao colaboracionismo com o regime militar, os estudantes da UFBA se levantaram como uma força de resistência. Nas ruas de Salvador e nos corredores da universidade, suas vozes ecoavam, desafiando o silêncio imposto pela ditadura. Eram jovens, muitos ainda em formação, mas sua determinação em defender a justiça e a democracia era palpável. As greves e manifestações organizadas por eles não eram meros atos de rebeldia; eram gritos de esperança em um país que parecia ter esquecido o significado da liberdade.

Alianças e Mobilizações

O movimento estudantil na UFBA não atuou isoladamente. A aliança estratégica entre os universitários e os estudantes secundaristas ampliou a força das mobilizações. Juntos, eles enfrentaram não apenas a repressão externa, mas também os desafios internos de uma sociedade que lutava para encontrar seu caminho entre a conformidade e a resistência. Essa união foi fundamental para fortalecer as reivindicações por direitos e liberdade em um período tão sombrio.

Entretanto, essa luta não foi sem custos. Com a promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5) em dezembro de 1968, a repressão se intensificou. Muitos líderes estudantis tiveram suas matrículas cassadas, desarticulando um movimento que resistia bravamente até então. O AI-5 não apenas silenciou vozes; ele destruiu sonhos e interrompeu trajetórias.

Memórias que Não Devem Ser Esquecidas

As memórias dessa luta são preciosas e devem ser preservadas. Elas nos lembram que o passado é um espelho onde refletimos nossa capacidade de enfrentar adversidades com dignidade. Cada ato de resistência estudantil foi um grito de esperança que ainda ressoa nas novas gerações, inspirando-as a valorizar a democracia e lutar por uma sociedade mais justa.

Na luta contra a ditadura militar que se instaurou no Brasil após o Golpe de 64, diversas lideranças estudantis da Universidade Federal da Bahia (UFBA) se destacaram por sua coragem e determinação. Esses jovens não apenas enfrentaram a repressão, mas também se tornaram símbolos de resistência e esperança em um período de trevas. Abaixo, estão algumas das figuras mais influentes desse movimento:

  1. Alice Portugal

Alice Portugal foi uma das líderes mais proeminentes do movimento estudantil na UFBA. Desde jovem, ela se destacou por sua capacidade de mobilização e organização. Alice integrou a direção do Diretório Central dos Estudantes (DCE-UFBA) e participou ativamente da reconstrução da União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1979. Sua trajetória inclui a presidência do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos da UFBA (ASSUFBA) e a liderança em greves contra políticas neoliberais nos anos 80, consolidando seu papel como uma voz forte na luta pelos direitos dos estudantes e trabalhadores

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  1. Caetano Veloso

Embora mais conhecido por sua carreira musical, Caetano Veloso também teve um papel ativo na militância política durante seus anos na UFBA.  Participou de várias manifestações contra o regime militar. Sua música e suas letras, que frequentemente abordam temas de resistência e liberdade, continuam a inspirar gerações

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  1. Marco Antônio Afonso de Carvalho

Marco Antônio Afonso de Carvalho foi uma figura central no movimento estudantil da UFBA, especialmente em ações de panfletagem e organização de eventos políticos. Ele estava envolvido em atividades que buscavam conscientizar os estudantes sobre a importância da resistência ao regime militar, mesmo enfrentando a repressão direta

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  1. Regina Martins da Matta

Regina Martins da Matta também se destacou como uma líder estudantil ativa durante a ditadura. Ela participou de diversas mobilizações e ações clandestinas, contribuindo para a luta pela liberdade e pelos direitos humanos. Sua coragem em enfrentar a repressão ajudou a manter viva a chama da resistência na UFBA

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  1. Maria da Glória Midlej Silva

Maria da Glória Midlej Silva foi outra importante líder estudantil que se envolveu nas atividades de resistência durante os anos 60 e 70. Ela participou ativamente das mobilizações e contribuiu para a disseminação das ideias de liberdade e justiça entre os estudantes

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  1. Wagner Coqueiro

Wagner Coqueiro foi um dos militantes que participaram das ações mais radicais do movimento estudantil, incluindo discussões sobre luta armada. Sua participação em atividades clandestinas exemplifica o clima de urgência e desespero que permeava o movimento estudantil naquele período

  7. Valdélio Santos Silva

Valdélio Santos Silva era um “virtual” candidato à presidência da UNE em 1979. Hoje,   professor adjunto na Universidade Estadual da Bahia, um experiente e conhecido pesquisador na área de sociologia e antropologia especializado no importante estudo da comunidade negra e quilombolas.

.Essas lideranças não apenas lutaram contra a opressão do regime militar, mas também deixaram um legado duradouro que continua a inspirar as novas gerações na defesa da democracia e dos direitos humanos. A memória dessas figuras é fundamental para entender a importância do engajamento cívico e político na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

 

 

Um Legado Duradouro

O legado desses estudantes transcende sua época. Ele nos desafia a preservar a memória e a verdade sobre os anos de chumbo para que nunca mais permitamos que o autoritarismo silencie nossas vozes. A coragem demonstrada pelos jovens da UFBA é um testemunho do poder da resistência e da importância do engajamento cívico.

À medida que olhamos para o presente e para o futuro, é essencial lembrar que cada geração tem o dever de lutar contra as injustiças e defender os valores democráticos. O movimento estudantil da UFBA nos ensina que a luta pela liberdade é contínua e que cada voz conta na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Como disse Gonzaguinha: “é tão bonito quando a gente sente que nunca está sozinho por mais que pense estar.” Essa frase encapsula o espírito dos estudantes da UFBA, que, mesmo diante da repressão feroz, encontraram força uns nos outros e na crença inabalável em um futuro melhor.

 

Que as histórias desses heróis sejam contadas, lembradas e honradas, pois são ecos de resistência que ainda reverberam nas lutas contemporâneas por direitos humanos e justiça social. A coragem estudantil durante os anos sombrios do regime militar é um farol que ilumina nosso caminho na busca por um Brasil onde todos possam viver com dignidade e liberdade.