
A reviravolta na posição do ministro Luiz Fux sobre as penas dos condenados pelos atos de 8 de janeiro não surpreende quem acompanha sua trajetória com olhos atentos. Desde os tempos da Operação Lava Jato, quando procuradores se referiam a ele com a mesma reverência que a frase “In God We Trust” gravada no dólar americano, já se delineava o perfil de um magistrado cuja bússola moral parece oscilar conforme os ventos políticos.
É profundamente perturbador, embora não surpreendente, observar como o ministro que acompanhava as decisões de Alexandre de Moraes agora questiona a “severidade das punições”, alegando que o tribunal julgou os envolvidos “sob violenta emoção” após os ataques. Essa mudança de postura coincide, “curiosamente”, com a exploração política do caso da cabeleireira Débora Rodrigues por Jair Bolsonaro e seus aliados.
Não podemos nos calar diante dessa dança perigosa com a ultradireita. A responsabilidade pelos efeitos desastrosos da Operação Lava Jato – que desestabilizou nossa democracia sem entregar a prometida “limpeza institucional” – ainda não foi devidamente apurada. E agora, vemos o mesmo padrão se repetir em relação aos atos golpistas que ameaçaram nossas instituições.
Devemos nos perguntar: a quem serve essa flexibilização repentina? Certamente não à democracia brasileira, ainda convalescente após os ataques sistemáticos dos últimos anos. O momento exige firmeza na defesa do Estado Democrático de Direito, não concessões àqueles que atentaram contra ele.
Nossa indignação precisa se traduzir em vigilância cidadã constante. Precisamos acompanhar de perto cada movimento dos guardiões de nossa Constituição, exigindo coerência e retidão. A memória democrática é nossa ferramenta mais poderosa contra o oportunismo jurídico-político.
A história não perdoará os que oscilam em momentos decisivos. O Brasil merece magistrados com princípios inabaláveis, não com convicções que se dobram às pressões políticas ou ao clamor das ruas quando isso convém a certos grupos.
Nossa democracia exige mais. Muito mais.
Padre Carlos