Nos últimos tempos, a palavra “impeachment” tem se transformado em um eufemismo perigoso para descrever algo muito mais grave: um golpe de Estado camuflado, direcionado contra as instituições democráticas. A tentativa de remover autoridades de seus cargos através de mecanismos formais, como o impeachment, quando motivada por interesses puramente políticos e apoiada por forças antidemocráticas, se torna uma ameaça real à estabilidade de um país.
A democracia brasileira já foi alvo de ataques diretos, mas o que estamos testemunhando agora é um movimento mais sofisticado, porém igualmente destrutivo. Um grupo de parlamentares de oposição protocolou mais um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), alegando suspeição no processo que julga os ataques do 8 de janeiro de 2023. No entanto, é importante questionarmos: qual o verdadeiro objetivo por trás dessa investida?
A resposta está na tentativa de enfraquecer o Judiciário e criar condições para a impunidade. O ministro Alexandre de Moraes tem sido uma figura central na defesa das instituições e no combate a movimentos antidemocráticos, o que o tornou alvo da extrema-direita e seus aliados. Quando uma parte significativa da sociedade civil é manipulada e conduzida a acreditar que a remoção de uma figura chave como Moraes resolveria os “problemas” do país, estamos diante de uma tentativa de golpe travestida de processo constitucional.
Para que esse tipo de golpe se concretize, é necessário que setores poderosos da burguesia estejam alinhados e que a manipulação sobre a sociedade civil seja massiva. A elite empresarial, por sua vez, ainda não se uniu de forma coesa aos extremistas, o que explica o fracasso das tentativas de derrubada institucional. Diferente de uma década atrás, quando a direita liberal conseguiu forjar um consenso que levou à remoção de Dilma Rousseff, os bolsonaristas hoje enfrentam uma resistência significativa no núcleo das instituições democráticas.
As manifestações recentes, como as do 7 de Setembro, embora volumosas, refletem um público que ainda não possui o apoio integral das forças econômicas e políticas necessárias para um golpe bem-sucedido. No entanto, a persistência dessas movimentações não deve ser subestimada. O discurso de parlamentares como Flávio Bolsonaro, que afirma que “nossa democracia continua doente”, na verdade, revela a estratégia de deslegitimação constante das instituições, preparando o terreno para futuros ataques.
O uso de impeachment como ferramenta política para enfraquecer o STF, especialmente quando usado contra ministros que defendem a Constituição, é um sintoma de um movimento golpista em ação. Essas investidas não são tentativas isoladas; fazem parte de uma campanha mais ampla, orquestrada para desestabilizar as instituições e abrir caminho para uma eventual ruptura.
O Senado, liderado por Rodrigo Pacheco, resiste até agora. Mas a pressão é crescente, e a manutenção dessa resistência será crucial para a sobrevivência da nossa democracia. O papel do Judiciário e do Legislativo neste momento não é apenas garantir o funcionamento regular da República, mas impedir que essa nova linguagem de golpe se normalize. Sob o disfarce de pedidos de impeachment e anistias a golpistas, há um esforço organizado para minar a credibilidade das instituições e preparar o terreno para a ruptura democrática.
A sociedade civil precisa estar atenta. Um golpe não se anuncia com tanques nas ruas; ele é cuidadosamente costurado nos bastidores, utilizando instrumentos legítimos para finalidades ilegítimas.