Política e Resenha

O Poeta e a Estrela Cadente: A crônica “Serena Estrela”

 

Era uma noite sem lua, mas cheia de estrelas. O médico poeta caminhava pela praia, ainda com a roupa que saiu do hospital, apesar de cansado devido um plantão estressante não sentia o peso da jornada. Carregava uma garrafa de whiskies em uma mão e os sapatos na outra, para sentir a areia fria sob seus pés. Ele olhava para o céu, procurando alguma inspiração para os seus versos. De repente, ele viu uma estrela cadente rasgar a escuridão, deixando um rastro de luminescência efêmera. Ele fechou os olhos e fez um pedido. Mas não era um pedido qualquer. Era um pedido impossível.

 

Ele queria que Serena voltasse. Serena, a mulher que ele amou mais do que tudo na vida. Serena, que partiu sem dizer adeus, levando consigo a sua alegria, a sua esperança, a sua razão de viver. Serena, que era a sua estrela guia, a sua luz, o seu sol.

 

O poeta sabia que Serena não voltaria. Ela se foi para sempre, vítima de uma doença cruel que a consumiu em poucos meses e ele mesmo com toda experiência e conhecimento científico não pode fazer a natureza parar. Ele não pôde fazer nada para salvá-la, apenas acompanhou o seu sofrimento, o seu declínio, o seu adeus silencioso. Ele não teve tempo de dizer tudo o que sentia, de agradecer por tudo o que ela fez, de pedir perdão por tudo o que ele não fez.

 

Agora, ele estava sozinho. Sozinho em um mundo sem cor, sem som, sem sentido. A primavera, estação que simboliza o renascimento e a esperança, tornou-se para ele um lembrete cruel da felicidade que já viveu. As flores que desabrochavam, o canto dos pássaros e a brisa suave apenas intensificavam a saudade da amada, cuja presença iluminava os dias como um sol radiante.

 

O poeta, outrora um ser alegre e cheio de vida, transformou-se em um bardo melancólico, vagando pelas ruas e pelos bares como um fantasma. A tristeza tomou conta de seu coração, e a única companhia que encontrava eram as lágrimas que teimavam em escorrer por seu rosto.

 

Em sua dor inconsolável, o poeta buscava respostas nos elementos da natureza. Apesar de ser materialista, lembrou de um professor da antiga escola de medicina que falou que ele um dia iria desejar ser um homem de fé e as palavras do velho mestres tintilava sua alma. Onde está aquele Deus?  Ele questionava as nuvens que flutuavam no céu, as ondas que se quebravam na praia e as estrelas que cintilavam no firmamento, mas nenhum deles oferecia o consolo e a resposta que ele tanto desejava.

 

A lembrança de Serena tornou-se uma obsessão para aquele pobre homem. Ele a via em cada canto da cidade, em cada rosto que passava, em cada sorriso que se esboçava. A memória da amada era como uma tatuagem em sua alma, impossível de apagar ou remover.

 

Ele reconhecia que seu destino estava traçado. Ele sabia que, assim como a estrela cadente que se desintegrou no céu, ele também iria se apagar, sucumbindo à dor e à saudade que o consumiam.

 

Enquanto houver poetas e sonhadores, a estrela Serena jamais se apagará de vez. Seu fulgor permanecerá vivo como símbolo do amor que desafia o tempo e supera a morte. E assim o bardo, apaziguado, retomou seu caminho, amparado pela certeza de reencontrar sua amada nas estrelas ou no Céu.