Política e Resenha

O Pragmatismo Político: Reflexões Sobre a Reforma Ministerial

 

 

Uma recente discussão em torno da reforma ministerial, planejada para o primeiro semestre de 2025, levanta questões fundamentais sobre os rumores do governo Lula e o compromisso com a unidade que o elegeu. Enquanto alguns dirigentes políticos interpretam os movimentos do governo como uma vitória estratégica, outros enxergam essas ações como um gesto de traição aos democratas e à esquerda, que desempenharam um papel crucial na construção de um governo de unidade nacional. Essa contradição escandaliza os dilemas de um pragmatismo que pode comprometer os ideais que sustentaram o projeto político vencedor em 2022.

A Unidade Nacional: Uma Construção Coletiva

A eleição de Lula em 2022 foi um marco de resistência democrática em um contexto de polarização extrema. Uma unidade formada entre partidos de esquerda, centro e até setores conservadores foi essencial para derrotar o bolsonarismo. Esse pacto não foi feito apenas por conveniências eleitorais, mas por um entendimento de que o Brasil precisava de estabilidade institucional e de um governo que representasse a diversidade política e social do país.

O esforço hercúleo da esquerda, especialmente do PT, para costurar essa aliança não foi apenas um projeto pragmático, mas um ato de responsabilidade histórica. Assim, qualquer gesto que pareça desonrar esse compromisso é visto, com razão, como uma quebra de confiança.

O Pragmatismo Como Necessidade ou Excesso?

O pragmatismo é uma característica inerente à política, especialmente em sistemas complexos como o brasileiro, onde governantes exigem alianças amplas. No entanto, há uma linha tênue entre a negociação estratégica e a descaracterização de um projeto político. Transformar o governo em uma “arca de Noé”, onde há espaço para todas as políticas atuais, incluindo aquelas que representaram a oposição mais ferrenha ao projeto de unidade nacional, pode minar a identidade e a coerência do governo.

A possível entrada de figuras que foram grandes aliados de Jair Bolsonaro em 2022, como parte de uma estratégia para ampliar a base de sustentação de Lula para 2026, pode ser interpretada como uma traição aos princípios que nortearam sua eleição. Se, por um lado, ampliar alianças pode ser visto como uma jogada inteligente para garantir a governabilidade, por outro, pode romper as bases que sustentam o governo e alienar os setores progressistas que esperam coerência política.

Uma Reforma Ministerial: Um Termômetro do Governo

A reforma ministerial anunciada para 2025 será um teste crucial para o governo Lula. Ela não apenas definirá a composição administrativa, mas também sinalizará os valores e as prioridades que orientarão o restante do mandato. A inclusão de nomes alinhados ao bolsonarismo, mesmo que em nome de uma suposta estabilidade política, terá consequências profundas para a percepção do governo junto à sua base.

Nesse contexto, o governo precisa honrar os compromissos firmados em 2022, preservando a essência do pacto democrático que garantiu sua eleição. Negociar espaços no governo é uma prática comum, mas é preciso que essas negociações respeitem os limites éticos e políticos que sustentam o projeto de unidade.

A Responsabilidade do PT e dos Caciques Políticos

Os caciques do PT, ao sugerirem que alianças com antigos aliados de Bolsonaro poderiam ser benéficas para 2026, estão colocando em risco o capital político acumulado nas últimas eleições. É necessário que o partido, como principal articulador da coalizão governamental, compreenda que o apoio popular e a substituição de sua liderança dependam de um equilíbrio entre pragmatismo e coerência.

As alianças não podem ser vistas apenas como um jogo de poder; elas devem ser instrumentos para fortalecer um projeto político comprometido com a vizinhança do país. Caso contrário, o governo corre o risco de se transformar em um aglomerado de interesses díspares, sem direção clara, alienando tanto sua base quanto o eleitorado que acreditou na promessa de mudança.

Honrando o Pacto Democrático

Ó governo Lula, para ter sucesso, precisa honrar o pacto democrático que o trouxe ao poder. Isso significa manter a integridade do projeto que prometeu governar com inclusão e responsabilidade, mas sem abrir mão de princípios fundamentais. A busca por alianças mais amplas não pode justificar o abandono de compromissos com as forças que possibilitaram sua vitória.

Em um cenário político marcado por crises e desconfianças, o fortalecimento da democracia passa por lideranças que sabem equilibrar pragmatismo e idealismo. O governo Lula tem a oportunidade de mostrar que é possível construir alianças sem desrespeitar sua base, fortalecendo tanto o projeto de unidade quanto a confiança no futuro do país.

Que a reforma ministerial não seja um símbolo de traição, mas um passo em direção a um governo que realmente representa a diversidade e os anseios do povo brasileiro. O pragmatismo, quando bem utilizado, é uma ferramenta poderosa; mas quando desvirtuado, podem ser as divisões de divisões e desilusões que nenhum governo democrático pode se dar ao luxo de enfrentar.