Política e Resenha

O Silêncio de Deus: Reflexões sobre o Horror e a Esperança

Perante o horror das guerras, das injustiças e da brutalidade do mundo, somos confrontados com uma pergunta inquietante: onde está Deus nesses momentos de sofrimento humano? A tecnologia moderna, especialmente a televisão, nos traz imagens vívidas dessas tragédias, nos fazendo questionar o silêncio divino diante do sofrimento humano.

O Papa Bento XVI, ao visitar Auschwitz, expressou o dilema profundo que muitos sentem: “Por que te calaste? Por que quiseste tolerar tudo isto? Onde estava Deus nesses dias? Por que se calou?” É uma pergunta que ecoa através das gerações, uma busca pela justificação divina diante do sofrimento aparentemente sem sentido.

Diante desse cenário, surge a tentação do ateísmo moral, uma rejeição de Deus em face do sofrimento humano. Como podemos acreditar em um Deus bom diante de tanto mal? No entanto, essa rejeição de Deus também levanta outra questão: sem Deus, como explicamos nossa revolta contra o mal e nossa busca por justiça?

Filósofos como Max Horkheimer e Theodor Adorno enfrentaram esse dilema filosófico. Eles reconheceram a impossibilidade de fazer justiça às vítimas inocentes da História e enfrentaram uma “tristeza metafísica” diante dessa realidade. Para eles, ou uma sociedade justa lembraria e honraria todas as vítimas do passado, ou seria uma sociedade vazia e desumana.

Essa busca por justiça, mesmo além da realidade imediata, é fundamental. A religião, apesar de suas falhas, oferece uma esperança contrafáctica: a esperança de que a injustiça que permeia a História não tenha a última palavra. É um anseio pelo “totalmente Outro”, pela justiça universal cumprida, uma esperança de que o sofrimento das vítimas inocentes não seja em vão.

No diálogo com filósofos como Horkheimer e Adorno, Bento XVI reconheceu que a necessidade da ressurreição dos mortos e da vida eterna é impulsionada pela injustiça que permeia a História. É um reconhecimento de que a injustiça não pode ter a última palavra, uma crença de que o amor e a justiça prevalecerão no final.

Neste silêncio de Deus, encontramos não apenas desespero, mas também uma chamada à ação. Devemos nos comprometer com uma práxis solidária, buscando justiça para as vítimas inocentes, mesmo sabendo que não podemos reparar completamente as injustiças do passado. Esta busca pela justiça é um reflexo da esperança que nos impulsiona para além do sofrimento, em direção a um mundo onde a paz e a equidade prevalecem.

O silêncio de Deus pode ser ensurdecedor, mas é também um convite para que nos tornemos agentes da mudança, lutando contra a injustiça e trabalhando para um mundo onde o sofrimento não tenha a última palavra. A esperança nos guia, mesmo no silêncio, para um futuro onde a justiça e o amor triunfarão sobre o horror do mundo