Política e Resenha

O Silêncio Ensurdecedor da Imprensa e a Coragem Solitária de Giorlando Lima

 

 

 

 

Em tempos de polarização política, espera-se que a imprensa desempenhe seu papel fundamental de fiscalizadora do poder, levantando debates, questionando abusos e defendendo aqueles que, muitas vezes, não têm voz. No entanto, em Vitória da Conquista, a maioria dos profissionais de imprensa parece ter assumido uma postura preocupantemente silenciosa diante de um ataque direto a uma de suas próprias colegas de profissão. A exceção a essa regra de conveniência e omissão foi o jornalista Giorlando Lima, que, com coragem e determinação, saiu em defesa da jornalista Daniella Oliveira, num cenário onde o restante da imprensa local optou pelo mais incômodo dos silêncios.

A Justiça Eleitoral determinou que o candidato a prefeito Waldenor Pereira (PT) retirasse um vídeo de sua campanha em que utilizava falas da jornalista Daniella Oliveira de forma manipulada. O conteúdo era construído para sugerir uma contradição entre o que Daniella dizia enquanto âncora do BATV, da TV Sudoeste, e suas atuais declarações como apresentadora do programa eleitoral da candidata Sheila Lemos (União). Essa manobra foi claramente interpretada como uma tentativa de constranger e desqualificar a profissional, o que teve repercussão negativa, especialmente entre os que ainda acreditam na ética jornalística.

O juiz João Batista Pereira Pinto, da 41ª Zona Eleitoral, foi contundente ao proferir sua sentença, concedendo direito de resposta à apresentadora e destacando que o vídeo induzia o público ao erro. Ao omitir dados cruciais, como o fato de que a reportagem de 2021 foi realizada apenas quatro meses após a atual prefeita assumir o cargo, o vídeo prejudicava gravemente a integridade profissional da jornalista. Um golpe não só contra Daniella, mas contra toda a classe.

No entanto, a maior perplexidade não foi causada pela decisão judicial em si, mas pela reação – ou melhor, pela ausência de reação – da imprensa local. O episódio escancarou uma ferida há muito tempo conhecida: a dependência de boa parte dos veículos de comunicação da publicidade oriunda de mandatos políticos. Esse vínculo de dependência cria um ambiente de autocensura e silenciamento, no qual os jornalistas que deveriam proteger seus colegas e questionar abusos são, muitas vezes, os primeiros a virar o rosto, com medo de perder contratos e financiamentos.

É assustador constatar que, em uma cidade tão rica em debates políticos e pluralidade de opiniões, poucos tiveram a coragem de fazer ecoar suas vozes em defesa de uma profissional da comunicação que sofreu um ataque frontal. Daniella Oliveira foi exposta, manipulada e usada como peça de campanha eleitoral, e a resposta de grande parte da mídia foi, lamentavelmente, o silêncio. A sentença que lhe foi favorável mal foi divulgada, enquanto o vídeo que a atacava corria solto pelas redes.

É nesse cenário que a atitude de Giorlando Lima se destaca. Com integridade e compromisso com a verdade, ele rompeu com a lógica perversa de dependência, levantando-se em defesa de sua colega e do jornalismo sério. Giorlando, sozinho, fez o que deveria ter sido uma resposta coletiva da classe. Sua postura não só dignifica sua carreira, mas também aponta para uma necessária reflexão sobre o papel da imprensa local: é preciso romper os grilhões da dependência financeira e das conveniências políticas.

A imprensa precisa ser livre e corajosa, sob pena de perder sua essência. Ao se calar diante de ataques a seus próprios profissionais, ela não apenas trai seus princípios, mas também abdica de sua função mais básica: a defesa da verdade e da integridade.

O episódio envolvendo Daniella Oliveira não deveria ser apenas mais um caso isolado. Ele deveria servir como um alerta, um chamado à ação para que a imprensa de Vitória da Conquista se reinvente, se liberte e retome seu papel de guardiã da democracia e dos direitos de todos. O silêncio, aqui, foi ensurdecedor – mas ainda há tempo de mudar essa história. Que o exemplo de Giorlando Lima inspire outros a fazerem o mesmo, antes que o jornalismo local perca, de vez, sua alma.

Padre Carlos