Política e Resenha

O Sonho de Marcelo Nilo: Entre a Nostalgia do Poder e os Desafios da Reconquista (Padre Carlos)

 

 

 

A política é um teatro de ascensões e quedas, onde protagonistas de ontem podem tornar-se coadjuvantes de hoje — e vice-versa. Marcelo Nilo, ex-presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), vive esse paradoxo. Após anos no centro do poder estadual, hoje ocupa um cargo discreto como assessor especial na Prefeitura de Salvador, longe do protagonismo que marcou sua trajetória. Seu atual projeto, no entanto, revela ambição: disputar uma vaga ao Senado em 2026, integrando uma chapa de oposição ao PT na Bahia. Mas, em um cenário político polarizado e marcado por coligações frágeis, sua jornada ilustra tanto as esperanças quanto as armadilhas da reinvenção na política brasileira.

O Mundo dá Voltas: Quem Desprezou Angelo Coronel Hoje o Defende

A política é um espelho distorcido do tempo: o que hoje parece inflexível, amanhã pode ser negociado. O caso de Marcelo Nilo, ex-presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), ilustra com precisão essa máxima. Em 2018, ele excluiu o senador Ângelo Coronel (PSD) de seus materiais de campanha, alinhando-se fielmente a esquerda e ao PT de Jaques Wagner e Rui Costa. Seis anos depois, longe do poder e das sombras petistas, Nilo ergue a bandeira de Coronel como aliado estratégico em sua jornada rumo ao Senado. A reviravolta não é apenas pessoal — é um retrato do jogo de interesses que define a política baiana, onde lealdades são temporárias e as convicções, moldadas pela conveniência.

 

Do Palco ao Bastidor: A Queda e o Provável  Ressurgimento

Marcelo Nilo não esconde a saudade dos tempos em que comandava a Alba. Na época, articulava maiorias, mediava conflitos partidários e definia agendas legislativas. Hoje, reduzido a um papel secundário, busca reacender sua relevância. Sua estratégia? Tendo ACM Neto como aliado, líder da oposição baiana, busca projetar-se como candidato ao Senado em uma chapa que incluiria segundo ele  o senador Ângelo Coronel (PSD).

A postura de Nilo é pragmática: “Na política, não adianta pleitear, você precisa ser convidado”, afirmou em entrevista à Itapoan FM, destacando que trabalha para “crescer na opinião pública” e construir uma base popular direta — algo que considera essencial para um senador, diferentemente do perfil mais local exigido de um deputado federal. Essa reflexão revela uma lição aprendida após sua derrota nas eleições de 2022, quando ficou em quarto lugar na disputa por uma vaga na Câmara dos Deputados, prejudicado por falta de tempo para campanha e desalinhamentos com aliados.

A Chapa da Oposição: ACM Neto como Âncora e os Riscos da Conjuntura

A projeção de Nilo exclui Vitória da Conquista e Feira de Santana, principais colégio eleitoral do interior. Assim ele vai definindo a chapa dos sonhos:  depende fortemente de ACM Neto, que seria o candidato a governador em 2026, com Zé Cocá como vice. O que não ficou claro foi o papel de Vitória da Conquista e de Feira de Santana nesta composição. A dupla para o Senado, formada por Nilo e segundo ele, Coronel, buscaria equilibrar experiência e alcance eleitoral. No entanto, a política baiana é um tabuleiro complexo. A oposição, embora forte nas grandes cidades — como Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista —, enfrenta a hegemonia do PT no interior, onde Jerônimo Rodrigues (governador) e aliados como Rui Costa e Jaques Wagner mantêm raízes profundas.

Nilo reconhece que sua candidatura está condicionada a “conjunturas”. A relação próxima com ACM Neto é um trunfo, mas a unidade da oposição não é garantida. Além disso, o PT baiano, apoiado por Lula — cuja popularidade no estado é um “fator mobilizador” —, tem histórico de vencer eleições mesmo perdendo nas capitais, graças ao voto massivo em municípios menores. Para Nilo, isso significa que sua campanha precisaria não apenas do apoio urbano, mas de uma penetração inédita no interior — algo que sua trajetória recente não demonstra.

Os Desafios: Entre o Passado e o Futuro

  1. A Sombra do PT: A base governista na Bahia é sustentada por uma coalizão ampla, incluindo PSD e MDB e parte do PP, com figuras como Ângelo Coronel (que paradoxalmente é cogitado na chapa de oposição). Se o PT mantiver essa união, a oposição terá dificuldades em romper a barreira rural.
  2. A Concorrência Interna: A própria chapa oposicionista pode enfrentar tensões. Ângelo Coronel, por exemplo, é um nome do PSD, partido que historicamente oscila entre alianças com PT e oposição. Sua adesão à chapa de ACM Neto ainda não está consolidada.
  3. O Fator Tempo: Nilo admite que precisa “criar condições objetivas” até 2026. Isso inclui reconquistar espaço midiático, fortalecer redes de apoio e, sobretudo, distanciar-se da imagem de “derrotado” de 2022. Sua possível migração para o PSDB — partido onde iniciou a carreira — é um movimento estratégico para garantir base partidária.

Conclusão: Um Jogo de Xadrez com Peças Incertas

Marcelo Nilo encarna a figura do político que tenta ressignificar sua trajetória. Seu discurso mistura realismo (“a política é feita de conjunturas”) e ambição (“vou trabalhar para crescer na opinião pública”). No entanto, o caminho para o Senado é árduo. A oposição baiana precisa não apenas vencer nas urnas, mas desmontar uma máquina petista que domina o estado há décadas.

Se Nilo conseguir transformar nostalgia em projeto concreto, articulando-se com ACM Neto e conquistando o eleitorado além das grandes cidades, poderá reescrever sua história. Caso contrário, restará a ele o papel de coadjuvante em um enredo que já o teve como protagonista. A política, como ele mesmo diz, é feita de momentos — e 2026 será o teste definitivo de sua capacidade de adaptação.

  1. o terá dificuldades em romper a barreira rural.
  2. A Concorrência Interna: A própria chapa oposicionista pode enfrentar tensões. Ângelo Coronel, por exemplo, é um nome do PSD, partido que historicamente oscila entre alianças com PT e oposição. Sua adesão à chapa de ACM Neto ainda não está consolidada.
  3. O Fator Tempo: Nilo admite que precisa “criar condições objetivas” até 2026. Isso inclui reconquistar espaço midiático, fortalecer redes de apoio e, sobretudo, distanciar-se da imagem de “derrotado” de 2022. Sua possível migração para o PSDB — partido onde iniciou a carreira — é um movimento estratégico para garantir base partidária.

Conclusão: Um Jogo de Xadrez com Peças Incertas

Marcelo Nilo encarna a figura do político que tenta ressignificar sua trajetória. Seu discurso mistura realismo (“a política é feita de conjunturas”) e ambição (“vou trabalhar para crescer na opinião pública”). No entanto, o caminho para o Senado é árduo. A oposição baiana precisa não apenas vencer nas urnas, mas desmontar uma máquina petista que domina o estado há décadas.

Se Nilo conseguir transformar nostalgia em projeto concreto, articulando-se com ACM Neto e conquistando o eleitorado além das grandes cidades, poderá reescrever sua história. Caso contrário, restará a ele o papel de coadjuvante em um enredo que já o teve como protagonista. A política, como ele mesmo diz, é feita de momentos — e 2026 será o teste definitivo de sua capacidade de adaptação.