A morte sempre esteve presente na vida humana como uma sombra inevitável, pairando sobre nossas cabeças com o peso do desconhecido. Há quem a encare com serenidade, outros com medo, e muitos com uma profunda tristeza pela ideia de deixar para trás tudo o que conhecemos: o mar, o céu azul, a floresta e as pequenas alegrias da vida cotidiana. Mas, por mais que tentemos fugir desse pensamento, ele nos pega desprevenidos, especialmente quando ainda nos sentimos inteiros, ativos, funcionando plenamente na sociedade.
O lamento por saber que um dia vamos deixar de ver o nascer do sol ou sentir a chuva molhando nosso rosto é uma reflexão que todos nós enfrentamos, mais cedo ou mais tarde. E, para muitos, essa sensação de “pena de morrer” é avassaladora. Afinal, mesmo acreditando em outras formas de existência, em vida após a morte ou na transformação espiritual, o que temos de concreto, o que de fato vivemos e sentimos, é esse mundo. A beleza da natureza, a conexão com o que está ao nosso redor, a sensação de pertencimento à matéria física — tudo isso torna a despedida mais amarga.
Mas, para além dessa tristeza, existe uma outra questão que surge em meio ao debate: e quando a vida, mesmo aqui, já não vale mais a pena ser vivida? Quando o corpo já não responde, quando a mente começa a falhar, quando a dor e o sofrimento se tornam companheiros diários, será que ainda existe espaço para essa “pena de morrer”?
A eutanásia, um tema cercado de tabus, ressurge aqui como uma alternativa para aqueles que, ao contrário de quem ainda tem função, prazer e consciência, não veem mais sentido em prolongar sua existência. E é nesse ponto que devemos fazer uma reflexão mais profunda sobre a autonomia do indivíduo frente à morte. Há quem deseje, com toda a força, lutar até o último suspiro, apreciando cada detalhe que a vida ainda tem a oferecer, enquanto outros simplesmente já não encontram mais razões para continuar.
A oposição à ideia de que a vida deve ser prolongada a todo custo precisa ser trazida à tona. Vivemos em uma sociedade que idolatra a juventude, o corpo perfeito e a mente lúcida, mas o que fazemos com aqueles que, inevitavelmente, perdem essas características? Será justo impor a todos a mesma regra de continuar vivendo, independentemente das condições?
Respeitar a vontade de quem pede para ir embora, para não prolongar uma existência de sofrimento e sem perspectivas de recuperação, é um dos maiores atos de humanidade e empatia que podemos ter. E isso, claro, nos leva a um debate ético fundamental: até que ponto temos o direito de decidir sobre a morte dos outros?
Para muitos, o momento de partida pode ser aterrorizante, e não há como negar que pensar em nunca mais ver o mar, o céu, ou sentir o calor do sol pode ser esmagador. Mas para outros, a dor de viver numa condição que já não oferece dignidade é insuportável. Talvez o verdadeiro respeito à vida esteja em permitir que, quando essa escolha for necessária, ela seja feita de forma consciente e sem julgamentos. Afinal, para alguns, a vida sem a plenitude que tanto valorizamos pode ser apenas uma sombra do que um dia foi, e a morte, então, não seria mais uma despedida triste, mas um alívio desejado.