Política e Resenha

 O Xadrez Baiano: A Arte Silenciosa de Otto Alencar no Comando do Tabuleiro (Padre Carlos)

 

 

 

Na política, aparências raramente revelam a essência. Na Bahia, onde o sol brilha forte e as marés do poder são tão complexas quanto as do Recôncavo Baiano, o Partido dos Trabalhadores (PT) ostenta a fachada de protagonismo. Mas, nos bastidores, quem segura as rédeas do jogo é um estrategista que prefere o silêncio aos holofotes: Otto Alencar. Enquanto o PT dança ao som de suas próprias narrativas, é o senador do PSD quem dita o ritmo, revelando que, no tabuleiro político baiano, o verdadeiro poder não grita – sussurra.

A Ilusão do Controle Petista

Há décadas, o PT constrói sua imagem como força hegemônica na Bahia, amparado por figuras como Jaques Wagner, Rui Costa e o atual governador Jerônimo Rodrigues. A narrativa de unidade e domínio, no entanto, esconde uma realidade mais sutil. O episódio emblemático de 2020, quando Rui Costa tentou empurrar Otto de volta ao governo estadual para assumir seu lugar no Senado, expôs a dinâmica oculta: Otto não apenas rejeitou a proposta como inverteu o jogo, obrigando Lula a levar Rui para Brasília. O recado foi claro: na Bahia, até o Planalto precisa negociar com o senador.

A lição se repete. Enquanto petistas ocupam cargos de visibilidade, Otto consolida sua base em silêncio. O PSD, sob sua liderança, hoje controla 27% das prefeituras baianas, superando o PT em capilaridade. Seis deputados federais e nove estaduais fazem do partido a âncora da base governista, um feito que nenhum discurso petista consegue ofuscar.

A Hierarquia Invisível: Tubarões e Peixes Miúdos

A política baiana opera sob uma hierarquia não escrita. Enquanto Otto é tratado como “tubarão” – aquele que exige respeito e define condições –, outros, como Angelo Coronel, são relegados à categoria de “peixe miúdo”. Coronel, também do PSD, viu-se preterido na articulação para 2026, enquanto Otto mantém seu lugar ao sol. A diferença de tratamento não é acaso: é sintoma de um sistema que premia quem controla redes de influência, não apenas siglas partidárias.

O PT, por sua vez, pratica a seletividade. Para os aliados essenciais, como Otto, há flexibilidade e concessões. Para os demais, resta a submissão ou o ostracismo. Coronel, sem o peso político do colega de partido, agora busca sobreviver em legendas marginais, enquanto Otto negocia seu espaço sem alarde.

2026: O Jogo Permanece nas Mãos do Mestre

O anúncio de Jerônimo Rodrigues sobre a “chapa puro-sangue” petista para 2026 – com ele próprio na reeleição, Jaques Wagner no Senado e Rui Costa na outra vaga – parece sinalizar a vitória do projeto petista. Mas é uma vitória de fachada. O arranjo só avança porque Otto Alencar permite. O senador, astuto, compreende que ceder espaço tático agora fortalece sua posição estratégica no longo prazo.

Enquanto o PT celebra sua unidade, Otto mantém o poder de veto. Se hoje ele não “bate na mesa”, como fez em 2020, é porque não precisa: sua influência já está internalizada. O PT age dentro dos limites que ele demarcou, como um jogador que acredita estar livre, mas ignora as cordas que o mantêm amarrado.

A Sabedoria do Silêncio

Há um ditado na política: “Quem manda, fala pouco”. Otto personifica essa máxima. Enquanto Rui Costa se apresenta como articulador e Lula como chefe, o senador prefere agir nos bastidores, onde as verdadeiras decisões são tomadas. Seu estilo discreto não é fraqueza, mas método. Ao permitir que o PT ocupe a vitrine, ele evita conflitos diretos e preserva energia para as batalhas essenciais.

O risco para o PT é claro: sua hegemonia aparente depende da anuência de um aliado que não hesitaria em derrubá-la se seus interesses fossem ameaçados. Basta lembrar 2020: quando Otto decidiu agir, o plano petista desmoronou em horas.

Conclusão: O Preço da Ilusão

A política baiana ensina que o poder real não precisa de microfones. Otto Alencar, mestre do xadrez regional, entende que, às vezes, é mais eficaz deixar os adversários acreditarem que estão no controle. O PT pode até ditar o roteiro, mas é Otto quem segura a caneta – e, se necessário, riscará o texto.

Em 2026, quando as peças do tabuleiro se moverem novamente, não será Lula, Rui ou Jerônimo quem definirá o jogo. Será o estrategista que, desde as sombras, já traçou todos os lances possíveis. Enquanto isso, a Bahia assiste à mesma peça de sempre: um partido que acredita ser ator principal, mas não percebe que o palco pertence a outro.