Política e Resenha

Otto Alencar e a Resistência à Pressão por Romper com o PT

 

 

Por Padre Carlos

Na política baiana, onde alianças são tão frágeis quanto estratégicas, o senador Otto Alencar (PSD) tornou-se protagonista de um debate que pode redefinir o cenário político do estado rumo às eleições de 2026. Em uma entrevista ao programa PodZé em 29 de maio de 2025, Otto admitiu ter sofrido pressão de prefeitos, ex-prefeitos e deputados do PSD para romper a aliança com o Partido dos Trabalhadores (PT), liderado pelo governador Jerônimo Rodrigues. A pressão, classificada por ele como “precipitada”, reflete tensões internas e externas que merecem uma análise cuidadosa, considerando suas implicações para a governabilidade e o futuro político da Bahia.

O Contexto Político

A aliança entre o PSD e o PT na Bahia é um pilar da governabilidade desde os tempos do ex-governador Jaques Wagner. Otto Alencar, que já foi secretário de Infraestrutura no governo Wagner, tem uma relação histórica com o PT, o que fortalece sua posição como mediador. No entanto, essa aliança não é isenta de tensões. Em 2022, por exemplo, Otto enfrentou resistência de setores do PT quando foi cogitado como candidato ao governo, evidenciando que as relações entre os partidos nem sempre são harmoniosas.

A origem da pressão atual está na possibilidade de o PT formar uma chapa “puro-sangue” para as eleições de 2026, priorizando nomes como Jaques Wagner e Rui Costa para o Senado. Essa articulação poderia excluir o senador Angelo Coronel (PSD), que busca a reeleição, um direito que Otto considera “legítimo” pela legislação. Em suas palavras, a exclusão de Coronel “fere o amor próprio” do senador e dele próprio, como presidente do PSD na Bahia. A pressão para romper com o PT veio de aliados que veem na possível exclusão uma afronta à influência do PSD no governo estadual.

A Resistência de Otto

Otto Alencar foi claro ao rejeitar a pressão para romper com o PT. “Eu não vou chegar em um grupo que eu acho que vai dar certo e chegar com um balde de gasolina”, afirmou, sinalizando sua intenção de evitar conflitos desnecessários e preservar a harmonia política. Ele enfatizou a importância de harmonizar interesses políticos e esperar por um momento mais propício para avaliar as opções, destacando que decisões precipitadas poderiam comprometer a estabilidade da coalizão.

Essa postura reflete a experiência de um político com décadas de atuação, que já foi governador interino, deputado estadual e secretário em diferentes gestões. Otto sabe que a política é um jogo de longo prazo, e romper com o PT agora poderia não só enfraquecer o PSD, mas também comprometer a governabilidade da Bahia em um momento em que o estado enfrenta desafios econômicos e sociais significativos.

Análise da Decisão

A decisão de Otto de resistir à pressão pode ser vista sob diferentes ângulos. Por um lado, ela demonstra lealdade ao governador Jerônimo Rodrigues e ao projeto de governo atual, garantindo continuidade e estabilidade. Manter a aliança preserva a influência do PSD no governo estadual, permitindo que o partido participe de decisões importantes e mantenha acesso a recursos políticos e administrativos.

Por outro lado, a cautela de Otto pode ser interpretada por alguns aliados como falta de assertividade. Ele próprio revelou que foi criticado por não responder “à altura” à possibilidade de exclusão de Coronel, sugerindo que setores do PSD esperavam uma postura mais combativa. Essa percepção de passividade pode gerar tensões internas, especialmente entre aqueles que defendem uma defesa mais vigorosa dos interesses do partido.

No entanto, Otto parece estar jogando um jogo mais amplo. Ele reconhece a força do PT, especialmente com o apoio do presidente Lula em nível nacional, e sabe que romper a aliança sem uma estratégia clara poderia deixar o PSD isolado. Em outra entrevista, ele afirmou que não descarta a possibilidade de uma chapa puro-sangue do PT, mas destacou que “na política, é preciso saber quanto pesa” (BNews). Essa declaração sugere que Otto está ciente do equilíbrio de forças e preparado para aceitar os resultados se o PSD não tiver peso suficiente para influenciar a composição da chapa.

Além disso, especulações sobre sua possível candidatura a vice-presidente em uma chapa com Tarcísio de Freitas indicam que Otto também está de olho no cenário nacional, onde manter boas relações com o PT pode ser vantajoso.

Minha Opinião

Em minha opinião, a decisão de Otto Alencar de resistir à pressão para romper com o PT é uma jogada estratégica e madura. Em um cenário político onde as alianças são cruciais para o sucesso eleitoral e a governabilidade, manter os laços com o partido no poder pode ser mais benéfico a longo prazo do que uma ruptura prematura. Otto demonstra uma compreensão profunda das dinâmicas políticas baianas e uma habilidade para navegar em águas turbulentas sem afundar o barco.

Sua experiência como político de longa data, que inclui ser governador interino e secretário em diversas administrações, lhe dá a visão necessária para priorizar a estabilidade sobre impulsos imediatistas. Além disso, sua postura pode abrir espaço para negociações futuras que beneficiem o PSD, seja garantindo uma vaga na chapa majoritária para Angelo Coronel, seja conquistando outras posições de poder dentro do governo estadual.

Embora a crítica interna no PSD seja compreensível, romper com o PT agora seria arriscado. Como Otto mesmo observou, uma chapa puro-sangue do PT “às vezes cansa” (BNews), sugerindo que ele acredita que o PT pode reconsiderar sua estratégia se perceber que uma chapa exclusiva não é viável. Sua paciência pode, portanto, ser recompensada com uma posição mais forte para o PSD no futuro.

Implicações para a Bahia

Para os cidadãos baianos, as disputas partidárias podem parecer distantes, mas suas consequências são concretas. Uma ruptura entre PSD e PT poderia levar a uma governabilidade mais instável, dificultando a continuidade de projetos sociais e de infraestrutura. Por outro lado, a manutenção da aliança, mesmo que tensa, garante uma coalizão mais ampla, o que pode beneficiar a diversidade de vozes no governo. Otto Alencar, com sua influência e histórico, atua como um contrapeso ao domínio petista, desde que consiga equilibrar as demandas de seu partido com os interesses do estado.

A força eleitoral de Otto, que superou ACM Neto em votos no primeiro turno das eleições de 2022, reforça sua relevância. Ele é uma figura consolidada, com mais de 4,2 milhões de votos na reeleição ao Senado, o que lhe dá capital político para negociar com o PT sem parecer subserviente.

Conclusão

O desabafo de Otto Alencar revela a complexidade da política baiana, onde alianças são testadas por ambições e lealdades. Sua decisão de resistir à pressão por romper com o PT é um reflexo de sua visão estratégica, que prioriza a estabilidade e o diálogo em um momento de incertezas. No entanto, ele precisará lidar com as tensões internas no PSD e com a possibilidade de o PT insistir em uma chapa puro-sangue, o que poderia forçar uma reavaliação de sua estratégia.

À medida que nos aproximamos das eleições de 2026, será interessante observar como essa dinâmica se desenrola e se Otto conseguirá manter o PSD como um jogador relevante no tabuleiro político baiano. Uma coisa é certa: em um estado onde a política é sinônimo de arte, Otto Alencar continua sendo um mestre em seu ofício.