Política e Resenha

Pablo Marçal e a Revolução na Comunicação Política: O Fenômeno Digital Que Surpreende São Paulo

 

 

Quando o empresário e influenciador digital Pablo Marçal foi anunciado como pré-candidato à prefeitura de São Paulo pelo PRTB, em maio deste ano, a reação foi, em grande parte, de ceticismo. Muitos viam sua candidatura como mais uma jogada midiática de um coach digital que, embora bem-sucedido no mercado de infoprodutos, parecia não ter envergadura política para uma disputa tão complexa como a da maior cidade da América Latina. No entanto, quatro meses depois, Marçal não só se consolidou como um sério concorrente, mas também tem transformado a maneira de se fazer campanha política no Brasil.

O fenômeno eleitoral Pablo Marçal deve ser entendido pela lente das suas habilidades de comunicação, um campo no qual ele já se destacava muito antes de entrar na política. Com uma base de 12 milhões de seguidores no Instagram e milhões de curtidas em cortes de vídeos publicados em suas redes, Marçal utiliza técnicas consagradas no marketing digital para criar engajamento massivo e direcionado. O que começou com táticas de venda de infoprodutos se tornou uma estratégia política eficaz, capaz de capturar a atenção das massas e polarizar o debate público.

As pesquisas de opinião e as bolsas de apostas já apontam Marçal como uma força a ser considerada. O fato de estar tecnicamente empatado com candidatos experientes como Ricardo Nunes e Guilherme Boulos no pleito paulistano mostra que sua comunicação, embora pouco ortodoxa para o cenário político tradicional, tem ressonado profundamente com uma parcela significativa do eleitorado.

O diferencial de Marçal não é apenas o uso massivo das redes sociais, mas sim a maneira como ele as explora. Ele não se limita a replicar os formatos tradicionais de campanha política. Pelo contrário, sua estratégia envolve a criação de momentos virais e a mobilização de suas bases digitais com uma frequência e intensidade raramente vistas no campo político. Ao publicar 29 vídeos em poucas horas após um debate, Marçal conseguiu alcançar milhões de pessoas de uma forma que os outros candidatos, com campanhas mais convencionais, nem de perto conseguiram replicar. A era dos discursos formais e dos programas eleitorais televisionados parece estar dando lugar a um novo modo de comunicação política, marcado pela fragmentação e pelo ritmo acelerado das redes sociais.

Porém, Marçal não se destaca apenas por sua habilidade técnica. Ele se posiciona como um outsider, alguém que desafia o sistema e se coloca como uma alternativa à velha política. Essa postura antissistema, que foi um dos pilares da campanha de Jair Bolsonaro em 2018, é o que o torna ainda mais atraente para um eleitorado cansado dos políticos tradicionais. Marçal não apenas condena a política como usualmente praticada, mas também se distancia da lógica convencional de campanha. Ele utiliza suas plataformas digitais para lançar provocações, descredibilizar adversários e questionar o próprio sistema eleitoral. Isso, aliado ao seu carisma de coach, faz dele uma figura que inspira seguidores fiéis, que se sentem parte de um movimento de transformação.

Contudo, esse estilo provocativo e a capacidade de manipular os algoritmos das redes sociais também trouxeram desafios legais. A Justiça Eleitoral determinou a suspensão de seus perfis em várias plataformas digitais, após suspeitas de que ele estaria pagando seguidores para impulsionar cortes de seus vídeos. A intenção da Justiça era frear o alcance de Marçal, mas o tiro saiu pela culatra. Com a criação de novos perfis, ele rapidamente acumulou milhões de novos seguidores, alcançando ainda mais pessoas e consolidando sua imagem de “vítima do sistema”. Esse efeito rebote só reforçou a percepção de que Marçal é alguém que incomoda o establishment e que está disposto a quebrar as regras para trazer uma nova forma de fazer política.

As táticas de Marçal, ainda que controversas, levantam uma questão fundamental: a política brasileira está preparada para o impacto das estratégias de comunicação digital? O campo progressista, historicamente mais voltado ao ativismo de base e às discussões ideológicas profundas, tem encontrado dificuldades para competir com a direita e a extrema-direita nesse terreno. As campanhas digitais de Marçal, Bolsonaro e outros políticos conservadores mostram uma capacidade de se apropriar dessas ferramentas com uma agilidade que seus oponentes ainda não conseguiram alcançar.

O futuro eleitoral de Pablo Marçal é incerto, mas o fato é que ele já deixou sua marca. Ao mudar a forma de comunicação política, ele forçou outros candidatos a repensarem suas estratégias e abriu um novo capítulo no marketing eleitoral brasileiro. Sua ascensão meteórica mostra que, na era digital, ser um outsider com habilidade de manipular as redes sociais pode ser um caminho viável para conquistar o poder.

Marçal ainda está em processo de construção, e as urnas dirão se seu fenômeno é duradouro ou apenas um fogo de palha. No entanto, a lição que ele deixa é clara: a comunicação política nunca mais será a mesma. E para quem ainda subestima o coach que se tornou candidato, talvez seja hora de prestar mais atenção. Afinal, as redes sociais já provaram sua capacidade de transformar azarões em fenômenos eleitorais.

Padre Carlos