Na história recente da Igreja Católica, poucas figuras incarnaram tão vividamente os valores do Evangelho como Dom Pedro Casaldáliga, o “bispo vermelho” da Amazônia. Sua trajetória como missionário e defensor dos oprimidos é um testemunho poderoso do verdadeiro significado da fé cristã.
Nascido na Catalunha, Casaldáliga chegou ao Brasil em 1968 para fundar uma missão claretiana na floresta amazônica. Anos depois, foi nomeado bispo de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso. Desde o início, colocou seu ministério a serviço dos pobres e marginalizados.
Sua ordenação episcopal em 1971 já prenunciava seu compromisso com a simplicidade franciscana. Em vez dos ornamentos tradicionais, vestiu-se com símbolos dos trabalhadores e indígenas locais. Habitou não em palácios, mas em locais modestos junto ao povo.
Incansável defensor dos sem-terra e camponeses, Casaldáliga enfrentou as iras dos poderosos. Sofreu inúmeras ameaças dos latifundiários e da ditadura militar. Mas nada o fez recuar de sua opção pelos oprimidos. Denunciou as injustiças também através da poesia, numa voz profética que ecoou pelo mundo.
Rotulado de esquerdista e revolucionário, afirmava não pertencer a rótulos políticos, mas ao Evangelho de Jesus. Para ele, a Boa Nova exigia uma adesão radical e uma postura destemida diante das estruturas de pecado. Como dizia, “revolucionário é o Evangelho”.
Homens como Casaldáliga e o Papa Francisco herdam o legado dos profetas bíblicos. Não são revolucionários, mas radicalmente evangélicos. Revelam um cristianismo que não se acomoda com os poderes deste mundo, mas busca incansavelmente a justiça do Reino de Deus.
As vocações do final da década de 1970 foram marcadas pela influência de homens como Casaldáliga. Esses jovens foram atraídos pela radicalidade do Evangelho e pelo compromisso com a justiça social.
Alguns desses jovens, como João, Zanoni, Valmir, Edberto e Vasco, tornaram-se padres. Eles seguiram os passos de Casaldáliga e dedicaram suas vidas à defesa dos pobres e oprimidos.
O testemunho de Dom Pedro Casaldáliga permanece uma inspiração inabalável. Sua vida convida os cristãos de hoje a uma fé corajosa, engajada na defesa da dignidade humana e na construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Que seu exemplo suscite novas gerações de crentes dispostos a viver o Evangelho sem medo e sem compromissos.