Política e Resenha

Quando a Direita Bate Palma para a PM do PT: Uma Reflexão Sobre Segurança e Política

 

 

 

 

Na última quinta-feira (6 de março de 2025), o deputado estadual Leandro de Jesus, do PL, protocolou uma moção de aplausos na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) para os policiais militares que participaram de uma operação no bairro de Fazenda Coutos, em Salvador. A ação, realizada na terça-feira (4), resultou na morte de 12 suspeitos ligados a uma facção criminosa. Em sua justificativa, o deputado exaltou o “profissionalismo” e a “bravura” da Polícia Militar, destacando sua atuação “firme e eficaz” para conter a escalada da violência e garantir a segurança da população. Mas o título desta coluna provoca: quando a direita aplaude a PM sob um governo do PT, seria isso um sinal de que o governo está a serviço dela?

O Contexto da Operação

Antes de responder, é preciso entender o que aconteceu. A operação em Fazenda Coutos foi deflagrada após uma tentativa de uma facção criminosa de assumir o controle do tráfico de drogas na região. Desde a noite de segunda-feira (3), tiroteios entre grupos rivais aterrorizavam os moradores de Teotônio Vilela, um sub-bairro da localidade. Diante disso, a Polícia Militar interveio, em uma ação classificada como “impostergável” pelo comandante da corporação, coronel Paulo Coutinho. O resultado: 12 mortos, todos identificados como suspeitos pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT).

À primeira vista, a intervenção parece justificável. Restaurar a ordem em uma área dominada pelo medo é uma responsabilidade do Estado. Mas a morte de 12 pessoas em uma única operação acende um alerta. Foi uma ação proporcional? Todas as alternativas foram esgotadas antes do uso da força letal? Essas perguntas são essenciais em um país onde a violência policial frequentemente cruza a linha entre o combate ao crime e a violação de direitos.

O Aplauso da Direita

Leandro de Jesus, alinhado à direita pelo PL, não hesitou em elogiar a PM. Em sua moção, ele destaca a “dedicação” e o “destemor” dos policiais, reforçando a importância das forças de segurança no combate ao crime organizado. Nas redes sociais, foi além: dirigiu-se ao governador Jerônimo Rodrigues (PT), afirmando que “o inimigo não é o policial, mas sim aqueles que colocam terror todos os dias em nosso estado”. A mensagem é clara: para o deputado, o governo deve apoiar incondicionalmente ações como essa.

O aplauso da direita, porém, levanta uma questão intrigante. Historicamente, o PT e seus adversários conservadores divergem sobre segurança pública. Enquanto a esquerda tende a priorizar prevenção, direitos humanos e reformas estruturais, a direita frequentemente defende uma abordagem mais dura, com ênfase na repressão. Então, por que a direita está celebrando a PM sob um governo petista? Seria um indício de que o governo de Jerônimo Rodrigues está alinhado aos interesses conservadores?

Um Governo a Serviço da Direita?

A provocação do título — “quando a direita bate palma para a PM do PT é porque o governo está a serviço dela” — sugere uma crítica sutil. Talvez o governo do PT na Bahia esteja adotando uma postura mais pragmática, ou até conservadora, em resposta à pressão da violência urbana. Afinal, governar é diferente de fazer campanha. O PT, que já defendeu uma segurança pública progressista, pode estar cedendo a demandas por ações enérgicas para não parecer leniente diante do crime.

Por outro lado, é possível que o aplauso seja apenas circunstancial. A operação em Fazenda Coutos respondeu a uma crise real, e a direita, que valoriza a repressão ao crime, viu nela uma vitória, independentemente de quem esteja no poder. Não significa, necessariamente, que o governo abandonou seus princípios. Mas, se gestos como esse se tornarem frequentes, a percepção de uma guinada à direita pode se consolidar.

O Equilíbrio Necessário

A segurança pública é um terreno escorregadio. Combater o crime organizado é imprescindível, mas o custo humano de ações como essa não pode ser banalizado. A moção de aplausos, ao celebrar a morte de 12 suspeitos como um triunfo, corre o risco de legitimar a força letal como solução padrão — uma visão que contrasta com os ideais progressistas do PT. Para o governo de Jerônimo Rodrigues, o desafio é duplo: garantir a ordem sem abrir mão de uma abordagem que respeite os direitos humanos e ataque as causas da criminalidade, como a desigualdade e a exclusão.

O que está em jogo não é apenas a imagem do governo, mas o futuro da segurança na Bahia. Se o PT quer evitar que aplausos da direita sejam lidos como subserviência, precisa mostrar que suas ações são guiadas por princípios, não por pressões. A operação pode ter sido necessária, mas o diálogo sobre como e por que ela aconteceu deve ir além de moções e discursos inflamados.

Conclusão

Quando a direita bate palma para a PM do PT, não é automaticamente um sinal de que o governo está a seu serviço. Pode ser apenas o reconhecimento de uma ação que, sob certas lentes, foi eficaz. Mas o governo petista não pode se acomodar nesses elogios. Seu papel é provar que é possível enfrentar o crime sem trair seus valores, equilibrando firmeza com humanidade. Só assim, o aplauso da direita será apenas um ruído, não uma sentença.