A cidade de Vitória da Conquista se destaca no cenário nacional não apenas por sua importância econômica e cultural, mas também por abrigar uma das maiores populações quilombolas do país. Com 12.057 quilombolas distribuídos em 40 comunidades reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares, a cidade é um verdadeiro berço de resistência e preservação histórica.
O Censo 2022 do IBGE revelou que Vitória da Conquista é o 10º município brasileiro com o maior número de quilombolas, destacando a relevância dessas comunidades na manutenção da memória da escravidão e da luta por direitos. O Beco de Dôla, por exemplo, tornou-se o primeiro quilombo urbano da cidade em janeiro deste ano, marcando um importante passo no reconhecimento e valorização dessas comunidades.
Em uma reportagem especial da TV Sudoeste, o antropólogo Itamar Vieira, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), explicou que a história de Vitória da Conquista está intrinsecamente ligada à exploração do garimpo no período colonial e imperial. Embora o garimpo não tenha sido realizado diretamente na região, a cidade se tornou um refúgio para escravos fugidos que buscavam sobreviver através da agricultura.
A comunidade de Maria Clemência é um exemplo vivo dessa herança. Lá, o feijão andu é cultivado em abundância, e a tradição agrícola é passada de geração em geração. Dona Vitória, uma das matriarcas quilombolas, relembra como desde muito cedo seus filhos já trabalhavam na terra, cada um com seu pedaço para cuidar.
Apesar dos números oficiais do Censo indicarem um crescimento populacional quilombola, representantes do Instituto do Quilombola do Sudoeste acreditam que a verdadeira quantidade de quilombolas na cidade é ainda maior. O medo de se identificar como quilombola, devido ao racismo e preconceito, ainda é uma barreira significativa.
As histórias das comunidades quilombolas em Vitória da Conquista são marcadas por resistência e luta. Cerca de 70% das comunidades carregam a história de escravos fugitivos, enquanto outras se formaram em locais onde os escravos conseguiram se refugiar, como Boqueirão, que se encontra distante, na serra.
Comunidades como Lagoa do Vitorino e São Joaquim de Paulo são exemplos de como os nomes dos escravos fugitivos perpetuam-se na geografia local, mantendo viva a memória daqueles que resistiram à opressão e buscaram a liberdade.
A visibilidade e reconhecimento dessas comunidades são fundamentais não apenas para a preservação histórica, mas também para a garantia de direitos e recursos que possibilitem a continuidade de suas tradições e culturas. Vitória da Conquista, com sua rica herança quilombola, continua a ser um símbolo de resistência e resiliência no Brasil.