Política e Resenha

Rodovias Baianas: Promessas, Desafios e a Urgência de Soluções Concretas

 

 

 

 

 

O cenário rodoviário baiano, especialmente no que tange às BRs 116 e 324, há muito tempo representa um dos maiores desafios logísticos do Nordeste brasileiro. Estas artérias viárias, fundamentais para o desenvolvimento econômico e a integração regional, encontram-se em estado preocupante, vítimas de anos de negligência e promessas não cumpridas. É neste contexto que analisamos o plano do governo federal para estas rodovias, suas implicações e a real possibilidade de transformação.

A Herança Problemática da Via Bahia

A concessão das rodovias BR-116 e BR-324 à Via Bahia demonstrou ser um fracasso em termos de gestão e investimentos. O acordo, que prometia modernização e segurança viária, resultou em obras inacabadas, manutenção precária e um sentimento de abandono por parte dos baianos que dependem diariamente destas vias. Viadutos inconclusos e trechos deteriorados são o testemunho visível de um contrato que não atendeu às expectativas e necessidades da população.

A saída da Via Bahia, anunciada como primeiro passo do plano governamental e possibilitada pela recente aprovação orçamentária, representa um avanço significativo. No entanto, é importante lembrar que este é apenas o início de um longo processo de recuperação.

O Plano Tripartite do Governo Federal

O esquema apresentado pelo governo federal para reverter esta situação está estruturado em três etapas. Primeiramente, a rescisão do contrato com a Via Bahia, reconhecendo o não cumprimento das obrigações contratuais pela concessionária. Em seguida, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) assumirá temporariamente a gestão das rodovias, comprometendo-se com a manutenção emergencial para elevação da qualidade do pavimento. Por fim, um novo processo de concessão será realizado, buscando um parceiro que efetivamente realize os investimentos necessários.

Esta estratégia, apesar de lógica em sua concepção, levanta importantes questionamentos sobre prazos e garantias. A população baiana, já desgastada por anos de espera, necessita de cronogramas claros e mecanismos eficientes de fiscalização que assegurem o cumprimento dos compromissos assumidos.

A BR-116: Artéria Vital do Brasil

A importância estratégica da BR-116 não pode ser subestimada. Estendendo-se de Jaguarão, no Rio Grande do Sul, até Fortaleza, no Ceará, ela é uma das principais rodovias do país, comparável apenas à BR-101 em termos de fluxo. No sudeste, seu trecho entre Rio de Janeiro e São Paulo, conhecido como Via Dutra, representa um dos corredores econômicos mais importantes do continente.

Na Bahia, sua relevância não é menor. Cortando grande parte do estado, ela é essencial para o escoamento da produção agrícola e industrial, além de ser via de acesso fundamental para dezenas de municípios. Os problemas enfrentados nesta rodovia não afetam apenas a mobilidade, mas impactam diretamente o desenvolvimento econômico regional e a qualidade de vida das populações adjacentes.

Entre Duplicações e Faixas Adicionais: O Dilema Técnico

Um aspecto técnico crucial no debate sobre estas rodovias é a opção entre duplicação completa ou construção de faixas adicionais. A duplicação, defendida por muitos especialistas, oferece maior segurança e capacidade de tráfego, reduzindo significativamente o risco de acidentes. Por outro lado, a implementação de faixas adicionais em trechos críticos representa uma solução mais rápida e menos custosa, embora com benefícios mais limitados.

O trecho entre Planalto e a entrada de Belo Campo, com aproximadamente 80 km, exemplifica este dilema. A aparente impossibilidade de duplicação a curto e médio prazo tem levado ao pragmático reconhecimento da necessidade de, ao menos, implementar faixas adicionais neste segmento crítico.

Da Promessa à Realidade: O Desafio da Implementação

O histórico de promessas não cumpridas na infraestrutura rodoviária baiana cria um ambiente de ceticismo natural. A afirmação de que o governo federal realizará “um investimento pesado para de uma vez por todas tirar o povo baiano dessa dificuldade” precisa ser acompanhada de ações concretas e transparentes.

As reuniões em Brasília, como a ocorrida em junho de 2023 no gabinete do Ministro da Casa Civil, Rui Costa, geram expectativas, mas a ausência de avanços visíveis subsequentes alimenta a desconfiança. O reconhecimento de que “não existe nenhuma movimentação nesse sentido” é uma constatação preocupante que contrasta com o discurso otimista oficial.

Conclusão: A Vigília Necessária

A melhoria das BRs 116 e 324 na Bahia é mais que uma questão de infraestrutura – é um compromisso com o desenvolvimento regional e com a segurança de milhares de cidadãos. A sociedade civil organizada, através de movimentos como o Duplica Sudoeste, cumpre papel fundamental na vigilância e cobrança contínuas.

O plano governamental, com seus três passos definidos, oferece um caminho possível. No entanto, sua concretização dependerá não apenas de decisões políticas e alocações orçamentárias, mas também da persistência daqueles que, diariamente, sofrem com as deficiências destas rodovias.

A “virada de chave” prometida pelo governo federal será verdadeiramente realizada apenas quando os baianos puderem trafegar com segurança e eficiência nestas importantes vias. Até lá, a vigilância e a cobrança continuam sendo instrumentos indispensáveis para a transformação da realidade rodoviária baiana.

 

JOSÉ MARIA CAIRES
DUPLICA SUDOESTE