Política e Resenha

Silenciou-se o Médium, Permanece o Legado: A Partida de Divaldo Franco

 

 

 

(Padre Carlos)

Na noite do dia 13 de maio de 2025, o Brasil silenciou por instantes. Em Salvador, na sua amada Mansão do Caminho, partiu aos 98 anos Divaldo Pereira Franco, um dos maiores nomes da espiritualidade brasileira e mundial. Sua morte, consequência de uma falência múltipla dos órgãos após uma luta corajosa contra o câncer na bexiga, não foi um fim, mas um novo começo – como ele mesmo tantas vezes explicou em suas mensagens de fé, consolo e sabedoria.

Divaldo não foi apenas um médium. Ele foi uma ponte entre mundos, um canal sereno por onde passaram vozes do além, mas sobretudo, passou o amor. Nasceu em Feira de Santana, no interior da Bahia, e desde cedo carregou uma sensibilidade incompreendida, que lhe trouxe dor, mas também lhe abriu caminhos de luz. Quem conheceu sua história sabe: por trás da figura calma e da fala mansa, havia um guerreiro da alma, um apóstolo da caridade.

Em 1952, Divaldo fundou a Mansão do Caminho, que se tornaria seu grande legado terreno. O que era apenas um sonho humilde se transformou, tijolo por tijolo, em um santuário de acolhimento, educação e dignidade para milhares de crianças e famílias da periferia de Salvador. Não se tratava de assistencialismo, mas de amor transformado em estrutura, educação e oportunidade.

Foi também escritor prolífico – mais de 250 livros, muitos psicografados, outros fruto de suas reflexões. Mas mais do que os livros, foram as vidas que ele tocou que fazem dele eterno. Cada palestra, cada abraço dado em silêncio, cada lágrima que ajudou a secar… Tudo isso compõe a alma de um homem que escolheu a paz como vocação.

Divaldo foi contemporâneo e companheiro de Chico Xavier, com quem partilhou não só a fé, mas o mesmo ideal de uma humanidade mais fraterna, mais empática, mais reconciliada com o sagrado. E se Chico representava o rio da compaixão silenciosa, Divaldo era a fonte contínua da palavra esclarecida.

Seu Movimento Você e a Paz mostrou que a espiritualidade pode — e deve — ultrapassar fronteiras religiosas. Com ele, Divaldo uniu católicos, evangélicos, umbandistas, judeus, budistas e ateus sob o mesmo teto do respeito e da harmonia. Afinal, como ele dizia, “o verdadeiro espiritualista é aquele que ama, sem exigências”.

Partiu em paz, como viveu. Sem cortejos, sem alardes. O caixão fechado, a cerimônia simples — por vontade dele. Mas nenhum tampo de madeira é capaz de encerrar um espírito que, durante quase um século, iluminou tantas consciências.

Divaldo Franco não teve filhos biológicos, mas foi pai de centenas, avô de milhares, irmão de milhões. Seu legado está vivo em cada criança alfabetizada na Mansão, em cada jovem resgatado das drogas, em cada coração que ouviu sua voz e reencontrou esperança.

O Brasil perdeu um mestre, mas o céu ganhou um missionário de volta. Que o espírito que tanto consolou agora seja consolado. E que nós, aqui na Terra, sigamos seu exemplo: trabalhar, amar, servir — e jamais desistir da paz.