Em um cenário geopolítico cada vez mais complexo, as recentes declarações do ex-presidente Donald Trump sobre a Groenlândia soam como um inquietante presságio do que pode estar por vir. A proposta de “comprar” um território soberano não é apenas um devaneio diplomático, mas um perigoso precedente que ameaça os fundamentos da ordem internacional estabelecida após a Segunda Guerra Mundial.
Quando um líder político da maior potência mundial sugere casualmente a aquisição de territórios estrangeiros como se fossem mercadorias em uma prateleira, não estamos apenas diante de uma gafe diplomática. Testemunhamos a manifestação de uma mentalidade neocolonialista que pensávamos ter ficado no século XIX, época em que nações eram negociadas em mesas de gabinete europeus.
A questão transcende a Groenlândia. O mesmo raciocínio predatório poderia facilmente voltar-se para outras regiões estratégicas do planeta, como a Amazônia brasileira. Nossa floresta, além de seu valor ambiental incalculável, representa um ativo geopolítico cobiçado internacionalmente por seus recursos naturais, biodiversidade e reservas hídricas.
As declarações sobre o Canal do Panamá e o Canadá seguem a mesma lógica perturbadora. O Canal, artéria vital do comércio internacional, não pode ser objeto de disputas hegemônicas sem graves consequências para a economia global. Quanto ao Canadá, a retórica agressiva mina décadas de cooperação norte-americana e demonstra como até aliados históricos não estão imunes a ameaças veladas.
Este momento exige uma resposta firme da comunidade internacional. A soberania nacional não é um conceito negociável, mas um pilar fundamental das relações entre Estados. Países em desenvolvimento, em particular, precisam fortalecer suas instituições e articular alianças estratégicas para resistir a pressões externas que visem fragilizar sua autonomia.
O Brasil, como potência regional e guardião da maior floresta tropical do planeta, tem papel crucial neste debate. Nossa diplomacia deve ser proativa em defender não apenas nossos interesses, mas também o princípio universal da autodeterminação dos povos. A história nos ensina que a passividade diante de ameaças à soberania pode ter consequências devastadoras.
Em um mundo onde interesses econômicos frequentemente se sobrepõem a princípios diplomáticos, devemos reafirmar que territórios não estão à venda, que povos não são mercadorias, e que a soberania nacional permanece como valor inegociável na construção de uma ordem internacional mais justa e equilibrada.