Donald Trump voltou ao comando dos Estados Unidos com uma missão clara: salvar o país do que ele vê como um declínio econômico. Seu plano, ousado e polêmico, aposta em medidas como tarifas altas, desvalorização do dólar e um foco intenso na indústria americana. A ideia é simples: fortalecer os EUA, custe o que custar. Mas esse “custe o que custar” pode ter um preço alto demais – não só para os americanos, mas para o mundo inteiro. Enquanto Trump promete trazer empregos e prosperidade de volta, suas ações podem acender um pavio que leve a economia global ao colapso. É uma aposta arriscada, e o futuro de todos nós está na corda bamba.
O mundo de hoje vive um desequilíbrio econômico que não é obra do acaso. Países como China e Alemanha acumulam superávits comerciais enormes – ou seja, exportam muito mais do que importam. Já os EUA carregam um déficit pesado, comprando mais do que vendem. Esse desequilíbrio não é natural; ele é artificial, mantido por políticas como a manipulação de moedas. A China, por exemplo, já foi acusada de manter o yuan fraco para tornar seus produtos baratos no mercado global. Isso prejudica os EUA, que veem suas fábricas fecharem e seus empregos desaparecerem. Trump quer mudar essa história, e sua arma principal são as tarifas: impostos sobre bens importados que tornam os produtos estrangeiros mais caros e dão uma chance para os americanos competirem.
Mas essa estratégia tem um lado perigoso. Tarifas podem até proteger algumas indústrias nos EUA, mas também aumentam os preços de tudo que vem de fora – de eletrônicos a roupas. Isso pesa no bolso do consumidor e pode alimentar a inflação, um monstro que, uma vez solto, é difícil de controlar. E tem mais: quando os EUA batem, os outros países não ficam quietos. Eles retaliam com suas próprias tarifas, e o que começa como uma briga comercial pode virar uma guerra econômica. Se cada nação levantar muros, o comércio global, que move a economia mundial, pode travar. É um risco real, e os sinais disso já apareceram nos últimos anos, com tensões entre EUA e China crescendo a cada nova rodada de sanções.
Esse jeito de agir vai contra tudo o que foi construído depois da Segunda Guerra Mundial. Naquela época, os EUA lideraram a criação de um sistema econômico baseado na cooperação. O Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e, mais tarde, a Organização Mundial do Comércio (OMC) nasceram para evitar que o mundo caísse de novo no caos das guerras e da pobreza. Esse sistema, com suas regras de comércio aberto, trouxe décadas de crescimento. Mas Trump não parece ligar para isso. Ao ignorar acordos internacionais e agir sozinho, ele está enfraquecendo essas instituições. Sem elas, fica mais difícil resolver crises globais – sejam econômicas, como a de 2008, ou de outro tipo, como as mudanças climáticas.
Aqui entra o chamado trilema político, uma ideia que diz que um país não pode ter tudo ao mesmo tempo: democracia, soberania nacional e integração global. Tem que escolher. Trump parece ter feito sua escolha: soberania e democracia (pelo menos no discurso) acima da integração com o mundo. Ele quer os EUA no controle do próprio destino, sem depender de ninguém. Mas isso tem um custo. Ao se fechar, os EUA podem perder o papel de líder global que exerceram por tanto tempo. E, sem cooperação, problemas que afetam todos – como pandemias ou crises financeiras – ficam mais difíceis de enfrentar.
Outro ponto importante é o dilema de Triffin. O dólar é a moeda que o mundo usa – para comprar petróleo, fazer negócios, guardar reservas. Para manter esse status, os EUA precisam exportar dólares, o que significa importar mais do que exportam e viver com déficits. Só que esses déficits enfraquecem a economia americana a longo prazo. Trump quer acabar com isso, reduzindo o déficit comercial. O problema é que, se o dólar perder força como moeda global, o sistema financeiro internacional pode entrar em crise. Outros países podem buscar alternativas, e a confusão seria enorme.
O plano de Trump tem três pilares principais. Primeiro, desvalorizar o dólar: com uma moeda mais fraca, os produtos americanos ficam mais baratos lá fora, e as importações ficam mais caras aqui dentro. Isso pode ajudar a vender mais e comprar menos. Segundo, fortalecer a indústria doméstica: as tarifas e outras medidas protecionistas são para dar um gás nas fábricas americanas. Terceiro, reequilibrar os fluxos de capital: menos déficit significa menos dinheiro saindo do país, o que pode fortalecer a economia interna. No papel, parece bom para os EUA. Na prática, é um jogo de alto risco.
Se der certo, os EUA podem ver um renascimento industrial, com mais empregos e uma economia mais forte. Mas os efeitos colaterais podem ser devastadores. Uma guerra comercial pode derrubar o crescimento global, já que o comércio é o motor de muitas economias. A inflação pode disparar, não só nos EUA, mas em todo lugar, à medida que os preços sobem. E, se o dólar vacilar, os mercados financeiros podem entrar em pânico. Além disso, ao enfraquecer a cooperação internacional, Trump deixa o mundo mais vulnerável a crises que ninguém resolve sozinho.
Donald Trump está jogando uma partida de xadrez com o mundo como tabuleiro. Seu plano para salvar os EUA é corajoso, mas perigoso. Ele pode até trazer benefícios para os americanos no curto prazo, mas o preço pode ser um colapso global – uma recessão, um caos financeiro, uma desordem que ninguém sabe como consertar. O mundo está interligado, e o que os EUA fazem afeta a todos. Será que vale a pena arriscar tudo por uma vitória incerta? Enquanto Trump avança, ficamos com a dúvida: ele será lembrado como o salvador da América ou como o homem que derrubou o mundo tentando salvá-la?
Padre Carlos